Por que meditamos? - A percepção da realidade (II)

Na semana passada, analisava os comentários de LeShan comparando a meditação com a ginástica: ou seja, embora pareça absurdo levantar pesos, na verdade o objetivo não está no peso em si, mas no bem-estar que sentimos depois. No caso da meditação, o objetivo tampouco está em ficar parado, prestando atenção na maneira como respiramos, e sim em uma nova percepção da realidade.
Será mesmo importante esta nova percepção?
LeShan concorda que é um problema realmente complexo. Por um lado, podemos "operar" de forma muito eficiente neste mundo tal qual o conhecemos. Por outro, sabemos que um considerável número de pessoas dignas de confiança, como Gandhi, Teresa d'Avila, ou Buda, procuravam perceber esta realidade de maneira distinta, e foi isso que os impulsionou a dar passos gigantescos, e mudar o destino da humanidade.
Assim como na ginástica, onde um bom professor sempre tem uma série de exercícios diferente para cada tipo de aluno, não existe uma técnica única para meditar, e qualquer pessoa que se interessa pelo tema deve procurar descobrir sua própria maneira. Entretanto, existem alguns passos elementares, presentes em quase todas as religiões e culturas que usam a meditação como forma de encontrar a paz interior, e que descreverei a seguir (sempre tomando como base o interessantíssimo livro de Lawrence LeShan, A arte de meditar):
A primeira coisa é ter consciência da própria respiração. Contar o número de vezes que inspiramos e expiramos a cada dois minutos nos ajuda a concentrar nossa atenção em algo que fazemos automaticamente, e desta maneira nos leva para longe do cotidiano. À primeira vista isso parece muito simples, mas não podemos nos deixar enganar por essa simplicidade: quem resolver experimentar esse exercício na prática perceberá que isso requer um esforço considerável e uma grande dose de paciência. Entretanto, à medida que fazemos isso (e podemos praticar a respiração consciente em qualquer lugar, seja antes de dormir, seja em um transporte coletivo em direção ao trabalho), vamos entrando em contato com uma parte desconhecida de nós mesmos, e nos sentimos melhor.
Escolhendo o lugar: a próxima etapa seria procurar dedicar dez ou quinze minutos por dia para sentar-se em um lugar calmo, e repetir essa respiração consciente, procurando manter-se imóvel (a exemplo dos monges zen, conforme já relatamos aqui). Os pensamentos surgirão, mesmo contra a nossa vontade, e neste momento é bom lembrar a frase de Santa Teresa d'Avila a respeito de nossa mente: "Um cavalo selvagem vai a qualquer lugar, exceto onde desejamos levá-lo".
Silenciando sem violência: finalmente, com o passar do tempo (mas é bom saber que isso requer um mínimo de dois ou três meses de exercício), a mente já se esvazia de maneira natural, trazendo uma grande serenidade ao nosso cotidiano. Por maiores que pareçam nossos problemas, por mais estressante que seja nossa vida, esses quinze minutos diários irão fazer muita diferença, e nos ajudar a superar - geralmente de maneira inconsciente - as dificuldades que enfrentamos.
Uma conhecida história zen conta que Lao Shi perguntou ao seu mestre, Wang Tei:
- O que devo fazer para ficar mais próximo de Deus?
Wang Tei pediu que ele o acompanhasse até o alto de uma montanha. Ali, tirou uma vela do bolso e deu para que seu discípulo acendesse. Lao Shi tentou várias vezes, sem resultado.
- Aqui venta muito, não vou conseguir.
- Mas, a três quilômetros daqui não está ventando.
- De que adianta? Eu precisaria andar até lá, para acender a vela num lugar onde não está ventando.
- Da mesma maneira, para educar a mente e iluminar a chama de Deus dentro de você , é preciso caminhar até um lugar mais calmo - respondeu Wang Thei.
Seja buscando Deus, seja apenas buscando a si mesmo, o homem que medita encontra seu lugar calmo, e consegue ter uma visão mais clara e objetiva do mundo.

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