Castañeda e a linhagem sagrada

Carlos Castañeda foi um filósofo que teve grande importância para minha geração e uma vez por ano faço questão de relembrá-lo nesta coluna. Por razões que não me compete julgar, terminou os seus dias fazendo algumas coisas que sempre condenou; mas todos nós temos nossas contradições, e o que fica na história de qualquer homem é o que ele procurou fazer de melhor. No caso de Castañeda, seus textos, alguns dos quais transcrevo (editados) abaixo, deixaram um legado que não pode ser esquecido:

O comportamento: um homem deve ir em busca da sabedoria, da mesma maneira que um soldado vai para a guerra: com medo, com respeito, e com total segurança. Deve agir como se soubesse onde está indo, embora na realidade não tenha a menor idéia do que irá encontrar; o que importa é que ele está percorrendo o caminho que escolheu.

Nada a perder: um guerreiro considera-se já morto. Como não tem nada a perder, ele segue adiante com alma e com calma. O medo já não consegue tirar sua energia, e ele consegue aplicá-la para viver cada momento com toda a intensidade possível. Um guerreiro tem certeza que todas as ferramentas para enfrentar as futuras dificuldades estão em suas mãos, e é o uso dessas ferramentas, também chamada de “experiência”, que o permitirá superar os obstáculos.

Agindo e conhecendo: um guerreiro sempre é um caçador. Ele calcula tudo e age, depois de refletir bem o que deve fazer. Ninguém consegue obrigá-lo a fazer coisas que não deseja. Ele vive porque age, e não porque pensa que age. Como sabe que está neste mundo apenas por um breve período de tempo, ele procura conhecer todas as maravilhas possíveis. Fala pouco, jamais se preocupa com o medo, e assume a responsabilidades de seus atos.

A morte como companheira: um guerreiro-caçador sabe que cada decisão pode ser sua última. A morte é sua companheira, sempre sentada do seu lado esquerdo, à distância de menos de um metro. Por isso, vai ao campo de batalha totalmente concentrado em sua vida, sabendo que a maior parte das pessoas está passando de uma ação para a outra sem pensar muito.

Os caminhos são iguais: todos os caminhos são iguais, e levam a lugar nenhum. Portanto, o guerreiro escolhe um caminho que tenha vida própria, e a partir do momento em que começa a percorrê-lo, ele se alegra e se transforma no próprio caminho; sua decisão de continuar nele apenas depende da alegria, e não da sua ambição ou do seu medo. Portanto, sempre antes de agir, ele pergunta a si mesmo: “Este caminho tem um coração?”.

A opinião dos outros: um guerreiro nunca gasta seu precioso tempo pensando na opinião dos outros. Conhece pessoas que acham que são importantes, e por causa disso também são gordas, arrogantes e sem flexibilidade. Para um guerreiro, a arte do combate deve ser combinada com leveza, ausência de tensão e de ambição. Um guerreiro é gentil com os outros porque, sobretudo, é gentil consigo mesmo.

A intenção: a intenção de um homem não é um pensamento, um objeto, ou um desejo, mas aquilo que o faz seguir adiante, mesmo quando todo mundo diz que será derrotado, ou o que escolheu não fará o menor sentido. Portanto, ter uma intenção clara ajuda um guerreiro a ser invulnerável, a agir como um feiticeiro, que é capaz de atravessar paredes, e atingir o infinito.

A escolha do seu caminho: nada neste mundo é dado de presente; as lições mais importantes são sempre aprendidas com muito esforço e dificuldade. Tendo isto em conta, o guerreiro-caçador jamais se desespera, se desgasta, ou perde seu tempo culpando os outros, porque sabe que em cada gesto seu está a responsabilidade de suas escolhas. Um guerreiro não pode reclamar ou arrepender-se: sua vida é uma luta constante, e os desafios não são bons ou ruins, são apenas desafios.

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