MARIA E A RESSUREIÇÃO*

Mons. João S. Clã Dias, EP

Em seus relatos sobre a Ressureição nada dizem os Evangelistas a respeito de Maria Santíssima. Entretanto, não é possível imaginar a Mãe do Redentor ausente desses acontecimentos.

Enquanto o corpo de Jesus repousava no sepulcro, os Apóstolos certamente sentiam, por um misterioso instinto, que a história do Homem Deus não podia estar concluída com aquela morte, mas não chegavam a imaginar a anunciada Ressurreição. Como supor, com efeito, que Jesus aceitaria o desafio lançado pelo mau ladrão: “Se és Cristo, salva-Te a Ti mesmo” (Lc 23,39)? Porque se o fato de um vivo ressuscitar um morto – como Ele fizera com Lázaro – já resultava inteiramemte incomum, quanto mais o seria alguém sair dos abismos da morte pelas próprias forças, dizendo só seu corpo: “Levanta-te!”.

A Santíssima Virgem, porém, não tinha a esse respeito a menor fímbria de dúvida. Na noite do Sábado Santo, afirma Plínio Correia de Oliveira, “somente Nossa Senhora, em toda a face da Terra, teve um Fé completa e sem sombra de dúvida na Ressurreição. […] A cada minuto que passava, de algum modo a espada da saudade e da dor penetrava ainda mais seu Coração Imaculado. Mas, de outro lado, havia a certeza de uma grande alegria da vitória que se aproximava. Esta concepção A inundava de consolação e gáudio”.

Dr. Plínio acrescenta que Nossa Senhora “representou nessa ocasião a Fé da Santa Igreja e, por assim dizer, sustentou o mundo, dando continuidade às promessas evangélicas, pois, se não houvesse Fé sobre a face da Terra, a Providência teria encerrado a História. Maria foi a Arca da Esperança dos séculos futuros. Ela teve em Si, como numa semente, toda a grandeza que a Igreja haveria de desenvolver ao longo dos séculos, todas as realizações do Novo; tudo isto dentro da alma de Nossa Senhora”.1

Para termos uma visão mais completa desse grandioso panorama, cabe lembrar que, segundo a opinião de renomados mariólogos, Cristo Sacramentado jamais deixou de estar presente em Maria Santíssima desde a Santa Ceia até a sua Assunção ao Céu. Toda vez que Ela comungava, renovavam-se em seu coração as Sagradas Espécies, tornando-A um tabernáculo permanente da Eucaristia.2

Ora, estando Cristo realmente presente na Santíssima Hóstia, Nossa Senhora deve ter sentido de algum modo, em seu interior, a Alma e o Corpo de Jesus separarem-Se no momento da sua morte, enquanto a Divindade continuava unida a ambos. Pois, como explica o Doutor Angélico, “tudo o que pertence a Cristo segundo seu próprio ser, pode ser atribuído a Ele enquanto existe em sua própria espécie e no Sacramento, a saber, viver, morrer, sofrer, ser animado e inanimado, etc.”3

Esse fenômeno pungente e misterioso supera nossa capacidade de compreensão. No Cenáculo, Maria Santíssima recebeu “o mesmo e verdadeiro Corpo de Cristo, que então era visto pelos discípulos sob a própria figura e era tomado na espécie do sacramento”. Ele, afirma São Tomás, “não era impassível na forma em que era visto sob sua figura, muito pelo contrário estava preparado para a Paixão. Por isso, nem era também impassível o Corpo que se entregava sob a espécie do Sacramento”.4

Nossa Senhora havia comungado o Corpo de Cristo padecente, e tendo-O custodiado durante toda a Paixão, os sofrimentos do seu Divino Filho reproduziram-se simultaneamente de algum modo no seu interior. E no mesmo momento em que Ele ressuscitava no Santo Sepulcro, ressuscitava também na Sagrada Hóstia presente em Maria.

Qual não terá sido o seu gáudio ao sentir misticamente em Si a Alma de Jesus unir-se de novo ao Corpo, e Ele Se apresentar agora mais glorioso do que antes da morte? Bem arquitetônico seria que nesse exato momento Nosso Senhor Lhe aparecesse fisicamente para consolá-la, pois Ela fora a Corredentora e compartilhava todos os sofrimentos da Paixão.

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*REVISTA ARAUTOS DO EVANGELHO. N.124 (Abril de 2012), p.16-17.

1CORRÊA DE OLIVEIRA, Plínio. Uma devoção da cristandade... In: Dr. Plínio, São Paulo, Ano XIII. N.145 (Abril 2010); p.34.

2O Pe. Faber, por exemplo, dá por certa a permanência das Espécies Eucarísticas em Maria durante todo o tempo da Paixão, e admite “sem nenhuma dificuldade” que esse privilégio possa ter se prolongado até o fim da sua vida terrena (FABER, Frederick William. O Santíssimo Sacramento. Petrópolis:Vozes, 1939, p.468-469). O Pe. Roschini, do seu lado, lembra que diversos escritores ascéticos são dessa opinião, na qual nada vê de improvavel (cf. ROSCHINI, OSM, Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo:Paulinas, 1960, p.154). Em nossa opinião, não cabe dúvida sobre este assunto, visto o princípio mariológico de eminência, assim formulado pelo Pe. Royo Marín: “Qualquer graça ou dom sobrenatural concedido por Deus a algum santo ou criatura humana, concedeu Ele também à Virgem Maria da mesma forma, em grau mais eminente ou de modo equivalente” (ROYO MARÍN, OP, Antonio. La Virgen María. Madrid: BAC, 1968, p.48).

3SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.81, a.4.

4Idem, III, q.81, a.3.

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