Semana Santa | Quinta-feira

Semana santa
Quinta-feira – Ex 12,1-8.11-14 1Cor 11,23-26 Jo 13,1-15
Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio
Valderi

Lava Pes
O povo judeu faz memória da Páscoa, ou seja, da passagem da situação de escravidão para a liberdade. Uma ceia como está, realizada neste dia, já era feita antes da libertação do Egito, mas tinha outro significado, era a passagem comemorada pelos nômades, das pastagens invernais às da primavera. Para este povo judeu esta passagem se renova em seu significado, passando a ser memória da escravidão para a liberdade, da morte para a vida.

Esta “memória” que o povo realiza quer dizer algo mais que simplesmente recordar, é atualização daquele evento salvífico para o povo, é tornar presente este evento para cada judeu, como se cada um estivesse vivendo aqueles dias. Por isso, a escritura pede que se tome um pouco do sangue da vítima, também pinte os marcos e travessas das portas (cf. Ex 12,7), tudo como o povo realizou a mando de Deus antes da saída do Egito para o deserto (cf. Ex 12,21-23). Esta “memória” não desapareceu quando Cristo revitalizou a Páscoa, pelo contrário, é mais necessária do que sempre foi. É o que realizamos no Santo Sacrifício da Missa, onde atualizamos a extrema oferta de Jesus Cristo no alto do calvário, presencializando a morte de Cristo e nisto tornando visível Seu corpo e Seu sangue, sua integral oferta a nós, como alimento para a vida eterna.

Ultima Ceia
A exigência da utilização de uma vítima sem defeito, macho, de uma ano (cf. Ex 12,5), nos projeta a pessoa de Cristo, levado pelo povo ao sacrifício na festa da Páscoa. No desígnio divino, este sacrifício realizado nesta festa judaica traz um novo significado, institui um novo sentido: agora não é somente passagem para a liberdade, mas é passagem definitiva da morte para a vida eterna. E isto se faz no ambiente de uma ceia pascal, este mesmo ambiente em que Cristo oferece-se a todos como alimento.

Este alimento santíssimo de Jesus, Seu Corpo e Sangue, é o que trazemos dos Céus a nós pela consagração do pão e do vinho. Este alimento nos vêm diretamente de Deus, assim como o alimento que saciou a fome do povo no deserto após a saída do Egito, onde Deus mandou-lhes cordonizes e pequenos grãos como orvalho, que lhes fez as vezes de maná, pão e carne para alimentá-los (cf. Ex 16,13-15). Neste momento da Santa Missa, em que presenciamos a transubstanciação – mudança da matéria – do pão e do vinho, participamos com a fé, pois o que vemos com os olhos do corpo é pão e vinho, mas em realidade é carne e sangue, algo que vemos somente com a fé, não com olhos do corpo.

Diz Paulo: na noite em que foi entregue (1Cor 11,23). Neste dia que os apóstolos se reuniam em torno de Jesus, em uma ceia, todos esperavam alegria e celebração festiva, mas para Jesus o sentimento era outro, nesta Ceia era o momento de deixar a toda humanidade o maior dom que poderia deixar na terra, o alimento que sacia a fome de todos, o “maná” que vêm do céu para saciar a fome daqueles que andam no deserto da vida. Nesta noite em que foi entregue, Jesus anuncia a traição, anuncia o Sacramento da Eucaristia e institui o Sacerdócio, chamado reservado àqueles que entregaram suas vidas como fez o Mestre.

Isto é o Meu corpo (1Cor 11,24): diz isso com o pão em suas santas mãos. Todos sabemos que a Onipotência de Deus Lhe dá este direito de, ao pronunciar uma frase afirmativa, tal desejo se torna realidade no ato. Por isso, na Santa Missa, o sacerdote diz as mesmas palavras de Cristo nesta Ceia, pois o sacerdote naquele momento esta agindo in persona Christi capitis, na pessoa de Cristo Cabeça, então suas palavras são palavras de Cristo, e temos a mudança do pão em corpo de Nosso Senhor. Do mesmo modo vemos acontecer nas palavras sobre o vinho, este cálice é a nova aliança em meu sangue (1Cor 11,25), este cálice de sangue é o selo desta Nova Aliança que fora prometida pelo Pai ao Seu povo. Assim como a Aliança do Antigo Testamento é selada com o sangue de holocaustos, a Nova Aliança também era necessário que fosse selada com o Sangue de uma vítima, com a diferença de que esta vítima é perfeita, por isso esta Nova Aliança é definitiva, pois não há como revogá-la.

Em toda a Ceia – Santa Missa – que participamos, é proclamado a morte de Cristo, esperando Sua segunda vinda: todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte enquanto esperamos a vossa vinda (aclamação da assembléia após a Consagração). Hoje, a cada palavra que pronunciarmos nesta Santa Missa, procuremos estar mais atentos, para tomar mais consciência daquilo que rezamos, pois cada palavra da Sagrada Liturgia é cuidadosamente escolhida para transmitir a todos a realidade do Sacramento que celebramos.

Neste mesmo dia, em que Cristo deixou-nos a Eucaristia, institui o ministério do sacerdócio. Lemos na carta aos Hebreus: temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus (Hb 4,14). Jesus, profeta e Rei, também é sacerdote, pois oferece a vítima para o holocausto em favor do povo; oferece a vítima que é Ele mesmo, por isso dizemos que Ele é sacerdote (que oferece a oferta), altar (onde é oferecido a oferta) e vítima (Ele mesmo é a oferta). Por ter esta função, Cristo é o sumo sacerdote eminente, pois é a excelência do sacerdócio, nada o iguala.

Ser sumo sacerdote não foi atribuição dada a si mesmo, mas foi algo que recebeu, por isso se lê no Novo Testamento: Cristo não atribui a si mesmo a honra de ser sumo sacerdote, mas foi aquele que lhe disse: Tu és meu filho, eu hoje te gerei (Hb 5,5). A unidade com o Pai já o deixava ofertar o que desejasse a todos, mas precisava que Cristo fosse “instituído” sacerdote perante os homens para que pudéssemos crer mais perfeitamente em seu sacrifício, por isso Deus Pai o reveste desta honra diante dos olhos humanos para que Sua oferenda seja visível a nós, sem a inclinação a deixá-la de lado vista não ser feita por um sacerdote como os homens conheciam. É claro que a perfeição de Sua oferta não reside em nossa compreensão ou não deste ato de Cristo, mas é para que crêssemos mais facilmente que Deus se utiliza de categorias conhecidas pelos homens.

Esta compreensão do sacerdócio de Cristo é fundamental para entendermos o sacerdócio ministerial que Ele institui nesta Santa Ceia. O mesmo sacerdócio de Cristo é o que homens comuns recebem pela infusão do Espírito Santo, sem deixar de respeitar a liberdade de cada um, estes escolhidos e consagrados são marcados indelevelmente – marca que não sai – pela Unção do Espírito de Deus, que os marca definitivamente e eternamente para o serviço de Deus ao povo. Dizemos que no momento da ordenação o sacerdote recebe uma mudança essencial em seu ser. De fato, todo o sumo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados... (Hb 5,1). Agora Cristo age na pessoa deste sacerdote que foi consagrado para este serviço, independente de seu estado de graça – pecador ou não –, Jesus utiliza-se deste homem que agora é sacerdote para ir ao encontro das pessoas. Por isso, também se diz que o sacerdote é “pontífice”, ponte entre Deus e os homens, participando desta atribuição de Cristo, sumo sacerdote e sumo pontífice.

Nesta ceia com seus discípulos, Jesus já sabe que a hora de sua entrega ao sofrimento pelos homens está próxima, por isso diz o evangelho: sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o pai (Jo 13,1). Sente ainda a necessidade de deixar mais um exemplo a seguir, algo fundamental na vida cristã: o serviço aos irmãos. Em realidade, este gesto de Cristo revela a humildade com que devemos nos relacionar com os outros. Somos todos irmãos, independente de nosso cargo, status social, ou posses, todos devemos servir, estar dispostos a lavar os pés dos demais, ou seja, sempre agir com humildade em tudo e com todos.

Se Cristo, que é o Senhor e Mestre, a quem todos devem servir, agiu com extrema humildade, como ousamos agir de modo diferente? Acaso somos melhores que Cristo?

Nesta celebração reproduziremos esta cena do evangelho em que Cristo, neste ato de extrema humildade, lava os pés do apóstolos, um por um, exemplo para nós. Sempre haverá quem não deseje que o humilde o sirva, como Pedro queria impedir a Cristo, mas estes, muitas vezes, estão querendo impedir o exercício da humildade para que não se sintam obrigados a fazerem o mesmo. Sejamos humildes nos atos, palavras e pensamentos, mas também deixemos os outros exercerem sua humildade, seja conosco ou com os demais.

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