VI Domingo do Tempo Pascal

At 10,25-26.34-35.44-48 1Jo 4,7-10 Jo 15,9-17

Pe. Valderi da Silva

Caríssimos irmãos e irmãs.

Jesus nos revela através do Seu evangelho de quem é a iniciativa neste intercâmbio entre o céu e a terra. É Deus quem dá o primeiro passo em direção a um relacionamento com o ser humano, e isto vemos em nossa própria adesão à fé cristã. Alguém realmente consciente de sua vocação cristã consegue perceber que não foi de si mesmo a grande impulso por viver a fé, mas foi Deus quem, misteriosamente, o chamou a viver e compreender a necessidade de ser seguidor de Cristo. Isto é a inciativa de Deus, que não espera ser chamado a intervir quando nos vê afundando nas complicações que o mundo oferece, mas antes mesmo de o invocarmos já nos chama e infunde em nosso profundo o desejo Dele, de vivermos com Ele.Santissima Trindade 02

A mesma iniciativa é tomada com Seu amor. Ele dispensa-nos Seu amor antes mesmo de existirmos, visto sua eterna e onisciente bondade. Mesmo quando a humanidade parece estar toda imersa no pecado, age com Seu imenso amor, como quando enviou-nos o Filho, como ouvimos na primeira leitura desta liturgia: foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu único Filho ao mundo para que tenhamos a vida por meio Dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados (1Jo 4,9-10). A entrega do Cristo ao mundo é a manifestação desta iniciativa Divina em buscar o relacionamento amoroso com os homens e mulheres.

O inexprimível amor de Deus é lido em Jesus Cristo, em Sua permanência com os homens, hoje contemplado no Evangelho.

O Amor de Deus é Trino

Como não poderia ser diferente, ao conhecermos a particularidade de Deus em Sua trindade de pessoas, o amor que percebemos brotar Dele é antes do tempo existido entre o Pai e o Filho. Em sua declaração como meu Pai me amou... (Jo 15,9a), Jesus nos deixa lembrar que este amor que nasce em direção ao ser humano é um amor vivido, um amor que conhece a riqueza do relacionamento, um amor que não é como o humano, que pode ser confundido com sentimentos fúteis e superficiais. Este amor de Cristo é perfeito, sem defeitos, pois é oriundo de Seu relacionamento com Seu Pai. Deste amor do Pai pelo Filho vemos nascer o verdadeiro conceito em substância do amor: um amor eterno, sem limites, sem condicionamentos, livre de influências exteriores, donde nasce todas as qualidades para um bom relacionamento.

Do Pai e do Filho, vemos dois amores, mas que são únicos por sua substância. Eles, vivendo em sua eternidade, carecem da imperfeição da obrigatoriedade de expressar de alguma forma esse amor mútuo como nós. Esses dois amores do Pai e do Filho não se expressam no Céu por meio de palavras, cantos, gritos... porque o amor, chegando ao grau máximo, não fala, não canta, não grita; ele se expande num alento, num sopro, que entre o Pai e Filho se torna, como Eles, real, substancial, pessoal, divino: o Espírito Santo (ROYO MARÍN, OP. Antonio. El gran desconocido. 5ed. Madrid: BAC, 1981, p.18).

É com este amor, que vive com o Pai na Pessoa Divina do Espírito Santo, que Jesus ama a nós, a quem Ele foi enviado. Um amor eterno e sem limites, como é própria de sua substância, por este motivo, entregou-se a morte por amor aos homens e mulheres, pois é este amor que o fazia enfrentar tudo pelos amados: assim também Eu vos amei (Jo 15,9b).

O amor neste mundo, se prova com as obras

Diferentemente da realidade do Céu, aqui o amor necessita ser expressado, pois não temos a propriedade divina que sabe do amor sem precisar que este seja demonstrado. Temos esta necessidade, por isso, procuramos meios para o tornar visível, e o modo mais expressivo é através das obras, ou seja, das coisas que podemos fazer aos outros. É através de ações motivadas pelo amor aos irmãos que podemos tornar isto que sentimos visível aos outros, além de manifestar exteriormente a Deus que meu amor realmente nasceu Dele. Um amor que não é capaz de fazer-me sair de mim em direção do meu irmão, dificilmente tem sua raiz no amor de Deus, provavelmente é mais imbuído de um sentimento egoísta e talvez retribucionista, pois pode até realizar algumas obras de caridade, mas no fundo deseja uma retribuição. O amor que nasce de Deus é extremamente gratuito, não cobra e nem espera nada.

Nos diz Jesus neste evangelho: se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor (Jo 15,10). Cristo nos aponta como devemos nos comportar para participar sempre deste Seu amor eterno, sem nunca nos desviar para as paixões mundanas. É guardando seu mandamento, ou seja, o observando como regra de ouro em nossa vida, em nosso relacionamento com a família, os amigos e todos aqueles que se aproximam de nós, que permaneceremos no Seu amor. Mas que mandamento é este de Jesus? Este é o Seu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei (Jo 15,12). O amor mútuo entre nós, exercido com o empenho que Deus espera, nos fará vivermos uma centelha do que se vive no Céu, pois o amor que nos moverá é nascido do amor em substância, o próprio Deus. Este mandamento de Jesus não é apenas um conselho, é uma ordem do próprio Senhor: isto é o que Vos ordeno: amai-vos uns aos outros (Jo 15,17). Todos os cristãos, portanto, devem sentir-se obrigados a procurar este amor e vivê-lo de forma integral para poder afirmar que seguem a Cristo em absoluto, sem reservas.

Jesus ainda acrescenta: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida pelos amigos (Jo 15,13). O ato supremo de expressão do amor de Jesus pelos seres humanos foi justamente Sua entrega na cruz, ápice de nossa salvação e expressão máxima de quando Deus deseja salvar o gênero humano. Jesus eleva este exemplo a qualidade de exigência fundamental para “medir” o amor que devotamos. Aquele que sente verdadeiro amor não freia os impulsos que este amor lhe leva a executar se pensar no quanto este ato pode lhe custar da vida, sempre considerará mais o quanto este ato de amor pode lhe aproximar do amor de Deus. Isto parece difícil ao olharmos para nossa realidade social, onde o amor próprio é exaltado a níveis máximos, tentando inculcar em cada homem e mulher o quanto isto é bom para eles. Isto mesmo, é bom “para eles”, ou seja, é bom para si, num ato de puro egoísmo, onde não cabe a consideração de amar mais o outro que a si mesmo. Uma pessoa que se deixa orientar pelas propagandas midiáticas e pelas conversas sem fundamento cristão, não consegue viver este amor que Cristo nos exige. Será sempre difícil para tal pessoa entender como ela pode doar sua vida por amor aos irmãos.

O verdadeiro sentido do amor e da amizade

O verdadeiro amor consiste em agir como Cristo agiu, obedecer o que Ele nos manda (cf. Jo 15,14), e nisto esta inserido as obras que devemos fazer para tornar visível nosso amor.

Cristo chama seus irmãos de amigos, pois sabe que no amor não pode existir disparidade entre os amados, por issSantissima Trindade 01 o chama-os “amigos”. Usa esta palavra para nos mostrar também o real sentido da amizade, algo que não procura elevar alguém acima dos outros, mas coloca-os todos ao mesmo nível, como no amor verdadeiro. Não existe entre amigos, rivalidade para saber quem dentre eles ama mais ou menos. Mas apenas vive-se o amor, de modo integral, isto é, em tudo o que fazem. Cristo se revela nosso amigo, pois quer deixar esta compreensão clara do verdadeiro amor.

[…] conhecendo-O, amando-O e cumprindo os seus mandamentos, transformamo-nos em verdadeiros amigos seus, porque amigo é aquele que conhece a vontade do outro e a põe em prática. (Mons. João Clã Dias, EP. Revista Arautos do Evangelho. Maio de 2012, N.125, p.16)

Nossa relação de amor a Deus, como amigos Seus, depende da real compreensão do sentido da palavra “amor”. Para isto, basta lembrarmos as palavras de Bento XVI em sua encíclica Caritas in Veritate:

Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente. (Bento XVI. Caritas in Veritate. n.3)

Ao alerta do Santo Padre, queremos unir nossos desejos de comungar perfeitamente do amor que Deus tem por nós. Por isso, a necessidade de vivermos urgentemente em nossa vida o mandamento do amor.

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