XXI Domingo do Tempo Comum

Js 24,1-2A.15-17.18b Ef 5,21-32 Jo 6,60-69

Pe. Valderi da Silva

Irmãos e irmãs em Cristo.

Ouvindo atentamente este trecho do livro de Josué, podemos começar a pensar no tema da liberdade para crer, ou seja, a chamada “liberdade religiosa”. Mas, mais do que uma apologia a esta liberdade religiosa, a leitura nos quer transmitir a liberdade em crer no Deus verdadeiro, o único Senhor da história e da vida humana. É concretamente neste sentido que Josué se pronuncia ao povo que o escuta: quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor (Js 24,15). Josué fala assim, num contexto em que há grande inclinação do povo a abandonar a adoração do verdadeiro Deus em favor de outros que possam lhes agradar mais.

Aqui se revela um pouco do que se passa na mente de muitos que convenientemente decidem não professar mais a fé em Deus. Se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir... (Js 24,15); com esta pergunta de Josué ao povo, nos colocamos diante da questão que deveria ser muito levantada neste tempo em que vivemos, pois na mente de muitos se formula uma concepção errada de Deus e da religião, ao ponto de transformá-la em algo privado, individual, que me dá o direito de exigir um resultado conforme meu gosto. Ora, isto não é crer, muito menos religião. Pois estou “crendo” em Deus somente na medita em que Ele me favorece, ou seja, concretamente, acabo agindo como “senhor do Senhor”!

Penso que até seria oportuno lembrar o que se entende por fé, visto que é a visualização do meu crer em Deus. Diz o Catecismo que “a fé é primeiramente uma adesão pessoal do homem a Deus; é ao mesmo tempo, e inseparavelmente, o assentimento – consentimento – livre a toda a verdade que Deus revelou” (CIC 150). Desta definição é importante notarmos que a fé é algo livre, isto é, que se têm por liberdade da pessoa, não se pode obrigar alguém a crer em Deus. É justamente por isso que ouvimos Josué perguntar ao povo a quem eles desejam servir, pois precisa-se escolher para que não se diga que somente crê em Deus por obrigação. Evidentemente que se tenta educar a todos na fé na verdadeiro Deus, mas mesmo educando, não se pode obrigar aqueles que estão sob nossos cuidados a crerem em Deus, pois a fé é uma adesão pessoal e livre.

Mas, e porque servimos o Senhor? “Por que Ele é o nosso Deus” (Js 24,18b). Assim como disse o povo a Josué, cada um que consegue reconhecer em Deus a verdadeira fonte da existência e da vida presente e futura, assumirá Ele como seu Senhor e assim, dirá a todos que crê Nele porque reconhece Nele o seu Senhor. Isto se torna importante para todos, pois hoje é necessário esclarecer nossa fé para que firmemos com certeza que estamos suficientemente cientes de que este Deus a quem procuramos é o Senhor de tudo. Como o ditado que se tornou popular diz, não se ama quem não se conhece; precisamos saber claramente quem é este Senhor que dizemos seguir e amar, de quem buscamos orientação para nossas vidas, em quem depositamos nossos anseios e projetos. É necessário conhecê-lo principalmente para que não nos juntemos àqueles que, não conhecendo a Deus, procuram um Deus que seja a sua medida, oportuno a seus desejos pessoais e que possa justificar sua vida nem tão reta e digna.Chamado de Pedro

Lembrando do que fora antes, de que precisamos educar-nos para que haja esta possibilidade do conhecimento do verdadeiro Deus para enfim, aderir a Ele de modo completo e profundo, podemos olhar para esta relação que São Paulo faz, da esposa com seu marido como exemplo da relação da Igreja com Cristo. Pois, é nesta Igreja, que se relaciona intimamente com Cristo, que buscamos o verdadeiro conhecimento de Deus. Muitos insistem em procurar saber sobre Deus fora dos cuidados desta Igreja, apelando muitas vezes para seitas, estudos místicos e astrológicos, enfim, muitas coisas que surgem quando se opta em buscar Deus em qualquer lugar, menos onde Ele verdadeiramente esta.

Esta leitura de São Paulo merece um olhar especial, pois vemos aqui, uma recomendação do coração de Paulo aos seus ouvintes, que eram os destinatários desta carta. Hoje a lemos e poderemos encontrar alguém que fique incomodado com tais palavras. Mas precisamos entender, além do contexto em que Paulo vivia, sua teologia por trás dos exemplos de que se utiliza.

A relação conjugal é perfeita para demonstrar como Jesus Cristo interage com a Sua Igreja. Lembremos que a Igreja de Cristo, é seu povo, somos nós, e que portanto, precisamos compreender que se trata de uma relação íntima e profunda de Deus conosco, assim como é a do casal que verdadeiramente se ama. De modo que, ouvimos Paulo dizer “as mulheres sejam submissas aos seus maridos... pois o marido é a cabeça da mulher, do mesmo modo que Cristo é a cabeça da Igreja” (Ef 5,23). No contexto de Paulo ainda predominava a submissão cega da esposa ao marido, pois devemos lembrar que neste tempo ainda o cristianismo respira de acordo com o que viveu do judaísmo. Claramente em nosso tempo, se desenvolveu a compreensão da realção da esposa para com o marido assim como a do marido em relação a esposa. Mas isto não muda a relação que Paulo nos evidencia, de Cristo com sua Igreja, pois todos os que formam a Igreja são e devem ser submissos a Ele, visto que sempre o chamamos de Senhor, ou seja, aquele que exerce um senhoril sobre seus súditos ou filhos.

Ainda Paulo, em suas recomendações, nos coloca frente a solicitude que deve ser a atitude sempre presente na vida conjugal, como deve ser sempre óleo a correr na comunidade que constitui a Igreja de Cristo. Solicitude, que significa cuidado, zelo, demonstração de amor e afeto, precisa estar movendo a todos os cristãos de forma a não mais encontrarmos alguém que se incline a trocar a fé por falta de solicitude de seus irmãos, pois é através de nós que Deus zela e cuida de seus filhos mais necessitados. Do mesmo modo, Paulo nos lembra que o amor que nos deve mover encontra seu ideal no amor de Cristo por sua Igreja. É por meio do sacrifício desmedido e livre, que se pode viver na Igreja como o verdadeiro amor de Cristo. Este amor não deve ser apenas expressão de palavras, mas atitude que inclui todas as partes da pessoa, sua alma, sua vontade, sua inteligência e seu corpo. Do mesmo que o marido deve ser fiel e amar sua esposa com todo seu corpo e também a esposa ao seu marido, os cristãos devem ter este amor por Cristo, assim como Ele têm por sua Igreja.

Já falamos que o ser humano é livre para assentir ao Deus verdadeiro, mas nunca em deixar de buscar conhecer este Deus. Uma vez que tenho o conhecimento Dele e sei onde o procurar, não se justifica mais por ignorância ou puro desconhecimento. Onde o encontramos de forma privilegiada é na Igreja de Cristo, que temos na Igreja Católica, e por isso não há outro lugar ou pessoa que nos possa, de modo completo e verdadeiro, apresentar o verdadeiro Deus.

Os discípulos de Jesus, ficam escandalizados pelas palavras Dele e se perguntam como alguém pode segui-lo se têm que ouvir e viver coisas tão difíceis. É justamente o pensamento de tantos que, por não reconhecerem em Jesus o Deus verdadeiro, logo deixam de viver sua fé, mediante a primeira exigência que a fé lhe pede e que provavelmente lhe tirará de seu conforto. São pessoas como estas, que ainda não perceberam que da fé em Deus nasce a necessidade de sair da idolatria das mordomias que o mundo nos oferece; que nos pede que demos menos valor ao que nos cerca para dar mais valor a Deus. Infelizmente, constatamos que almas resistentes as palavras de Jesus são as que saem em procura de um deus a sua medida, que não lhes comprometa tanto, que talvez até as peça mais dinheiro, desde que deixe-as viver com suas coisas e com aqueles pecados que as trazem suposta felicidade.

Os cristãos que desejam dedicar-se ao conhecimento do Deus de sua fé, para que o ame mais, esteja preparado para encontrar estas exigências que brotam do conhecimento cada vez maior da resposta que Ele espera de cada um de nós. Talvez alguém possa pensar, que então seria melhor viver na ignorância, não buscar este conhecimento. A estes é importante lembrar que, o ser humano foi criado para conhecer e amar a Deus (cf. Catecismo de São Pio X), e que ao desfazer-se desta finalidade de sua natureza deixa de cumprir conscientemente algo querido por Deus e portanto, peca por desobediência.

Caríssimos irmãos. Neste evangelho, ouvimos que muitos abandonaram o Senhor após descobrirem que segui-Lo não traz mordomias, mas enquanto neste mundo, talvez muitos sofrimentos. Peçamos a Deus que nos fortaleça na fé para chegarmos a resposta dos discípulos fiéis: “Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6,69).

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