Direção Espiritual: importância atual

Importãncia atual, momento da graça

64.  O aconselhamento espiritual, chamado também de direção e acompanhamento espiritual, é praticado desde os primeiros séculos da Igreja até os nossos dias. Trata-se de uma praxe milenar, que deu frutos de santidade e de disponibilidade evangelizadora.

O Magistério, os Santos Padres, os autores espirituais e as normas de vida eclesial falam da necessidade deste aconselhamento ou direção, sobretudo no itinerário formativo e em algumas circunstâncias da vida cristã. Existem momentos na vida que necessitam de um discernimento especial e de um acompanhamento fraterno. É a lógica da vida cristã. « É preciso redescobrir a grande tradição do acompanhamento espiritual pessoal, que sempre deu tantos e tão preciosos frutos, na vida da Igreja » (JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 40: o.c., 723.30)

65.  Nosso Senhor estava próximo aos seus discípulos. A direção, acompanhamento ou aconselhamento espiritual originou-se no curso dos séculos, a início sobretudo por parte dos monastérios (tanto no Oriente quanto no Ocidente) e, por conseguinte, também por parte das diversas escolas de espiritualidade, a partir da Idade Média. Sua aplicação na vida cristã tornou-se mais frequente desde os séculos XVI-XVII, como pode ser constatado nos escritos de Santa Teresa
de Jesus, São João da Cruz, Santo Inácio de Loyola, São João de Ávila, São Francisco de Sales, Santo Afonso Maria de Ligório, Pedro de Bérulle, etc. Mesmo que predominantemente a direção espiritual tenha sido dada por monges e sacerdotes, sempre existiram fi éis (religiosos e leigos) – como por exemplo, Santa Catarina – que prestaram este serviço. A legislação eclesiástica recolheu toda esta experiência e a aplicou sobretudo na formação inicial à vida sacerdotal e consagrada. Existem também fi éis leigos bem formados, homens e mulheres, que desenvolvem este serviço de aconselhamento no caminho da santidade.

Formação sacerdotal para este acompanhamento

66.  A direção espiritual é uma ajuda no caminho da santificação para todos os fiéis em qualquer estado de vida. Atualmente, enquanto se observa uma busca de orientação espiritual por parte dos fi éis, adverte-se ao mesmo tempo a necessidade de uma maior preparação por parte dos ministros, a fi m de poderem prestar diligentemente este serviço de aconselhamento, discernimento e acompanhamento. Onde existe tal prática, se dá uma renovação pessoal e comunitária, surgem vocações, espírito apostólico, alegria na esperança.

67.  No período de preparação para o sacerdócio, aparece sempre mais necessário e urgente o estudo da teologia espiritual e a experiência desta na própria vida. Na verdade, o aconselhamento ou direção espiritual é parte integrante do ministério da pregação e da reconciliação. De fato, o sacerdote é chamado a guiar no caminho da identificação com Cristo, que inclui o caminho da contemplação. O auxílio da direção espiritual, como discernimento do Espírito, faz parte do ministério: « sabendo discernir se os espíritos vêm de Deus, [os presbíteros] perscrutem com o sentido da fé, reconheçam com alegria e promovam com diligência os multiformes carismas dos leigos, tanto os mais modestos como os mais altos » (CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 9.)

68. A formação inicial ao sacerdócio, desde os primeiros momentos de vida no Seminário, abrange efetivamente esta ajuda: « os alunos sejam formados com uma peculiar educação religiosa, e sobretudo por uma apta direção espiritual, de maneira a seguir Cristo Redentor de alma generosa e coração puro » (CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Optatam totius, 331)

69.  Não se trata apenas de uma consulta sobre temas doutrinais, mas, antes, sobre a vida de relacionamento, intimidade e confi guração com Cristo, que é sempre uma participação na vida trinitária: « A formação espiritual deve estar estreitamente unida com a formação doutrinal e pastoral graças sobretudo à colaboração do Diretor espiritual; seja
dada de tal maneira que os alunos aprendam a viver em união familiar e assídua com o Pai por meio de Seu Filho Jesus Cristo, no Espírito Santo » (Ibid., 8.)

Direção espiritual e ministério sacerdotal

70.  Os munera sacerdotais são descritos tendo-se em consideração a relação dos sacerdotes com a vida espiritual dos fi éis: vós « sois os ministros da eucaristia, os dispensadores da misericórdia divina no sacramento da penitência, os consoladores das almas, os guias de todos os fi éis nas tempestuosas difi culdades da vida » (JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 4: o.c., 663.)

No acompanhamento ou direção espiritual dá-se sempre grande importância ao discernimento do Espírito com o objetivo da santificação, da missão apostólica e da vida de comunhão eclesial. A lógica do Espírito impele a viver na verdade e no bem conforme o exemplo de Cristo. É necessário pedir a sua luz e a sua força para discernir e ser fiel ao seu direcionamento.

71.  Pode-se afi rmar que esta atenção à vida espiritual dos  fiéis, guiando-lhes no caminho da contemplação e da santidade, também como um auxílio para o discernimento vocacional, é uma prioridade pastoral: « nesta perspectiva, o cuidado pelas vocações ao sacerdócio saberá exprimir-se também numa firme e persuasiva proposta de direção espiritual [...] Os sacerdotes, pela sua parte, sejam os primeiros a dedicar tempo e energias a esta obra de educação e de ajuda espiritual pessoal: jamais se arrependerão de ter transcurado ou relegado para segundo plano muitas outras coisas, mesmo boas e úteis, se for necessário para o seu ministério de colaboradores do Espírito na iluminação e guia dos chamados» (Ibid., 40: o.c., 724-725.32)

72.  O cuidado pelos jovens, em particular, com a finalidade de discernir a própria vocação específica na vocação cristã em geral, requer esta atenção de aconselhamento e acompanhamento espiritual: « como então escrevia o futuro Papa Paulo VI, “ a direção espiritual tem uma função belíssima e pode dizer-se indispensável para a educação moral
e espiritual da juventude que queira interpretar e seguir com absoluta lealdade a vocação da própria vida, seja ela qual for, e conserva sempre uma importância benéfi ca para todas as idades da vida, quando à luz e à caridade de um conselho piedoso e prudente se pede a comprovação da própria retidão e o conforto para o cumprimento generoso dos
próprios deveres. É meio pedagógico muito delicado, mas de grandíssimo valor; é arte pedagógica e psicológica de grande responsabilidade para quem a exercita; é exercício espiritual de humildade e de confiança para quem a recebe
”» (Ibid., 81: o.c., 799-800.)

[Direção espiritual ligada ao Sacramento da Confissão]

73.  A direção espiritual está habitualmente relacionada com o sacramento da reconciliação, ao menos no sentido de uma consequência possível, quando os fi éis peçam para ser guiados no caminho da santidade, inclusive no itinerário específi co de sua vocação pessoal: « paralelamente ao sacramento da reconciliação, o presbítero não deixará de exercer o ministério da direção espiritual. A descoberta e a difusão desta prática, em momentos diversos da administração da penitência, é um grande benefício para a Igreja no tempo presente. A disponibilidade generosa e ativa dos presbíteros para praticá-la constitui também uma ocasião importante para determinar e sustentar as vocações ao sacerdócio e as várias formas de vida consagrada » (CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbí-
teros Dives Ecclesiæ (31 de março de 1994), 54.)

A Direção espiritual que recebem os ministros ordenados

74.  Os próprios ministros necessitam da prática da direção espiritual, que está sempre intrinsecamente ligada à intimidade com Cristo: « para desempenhar com fi delidade o seu ministério, tenham a peito o colóquio quotidiano com Cristo Senhor, na visita e culto pessoal à Sagrada eucaristia; entreguem-se de bom grado ao retiro espiritual, e tenham em grande apreço a direção espiritual » (CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 18.33)

75.  A realidade ministerial exige que o ministro receba pessoalmente a direção espiritual, procurando-a e recebendo-a com fi delidade, para poder dirigir melhor os outros: « para contribuir para o melhoramento da sua espiritualidade é necessário que os presbíteros recebam eles mesmos a direção espiritual. Colocando nas mãos dum sábio colega a formação da sua alma, a partir dos primeiros anos de ministério, crescerão na consciência da importância de não caminhar
sozinhos pelos caminhos da vida espiritual e do empenho pastoral. Recorrendo a este meio efi caz de formação, tão experimentado na Igreja, os presbíteros terão plena liberdade na escolha da pessoa a quem confiar a direção da sua vida espiritual » (CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros Dives Ecclesiæ, 54.)

76.  Para resolvermos as questões pessoais e comunitárias é necessário recorrer ao conselho dos irmãos sacerdotes, sobretudo daqueles que devem exerce-la em função da missão a eles confi ada, de acordo com a graça de estado, recordando que o primeiro “ conselheiro ” ou “ diretor ” é sempre o Espírito Santo, ao qual se precisa recorrer com
uma oração constante, humilde e confi ante.

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*Excerto do O Sacedote, ministro da misericórdia divina: Subsídio para Confessores e diretores espirituais. Congregação para o Clero. Ed. Paulinas, 2011. Nn. 64 a 76.

**Partes em negrito no texto e em colchetes, do Blog VALDERI

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