Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo

Missa da Noite – Is 9,1-6 Tt 2,11-14 Lc 2,1-14

Pe. Valderi da Silva

Queridos irmãos e irmãs.

“Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz!” (Sl 2,7). Assim, se inicia esta Santa Missa nesta Nocte Sancta – Noite Santa –, pois hoje Christus natus est nobis – nasceu para nós o Cristo.

Na fragilidade desta cena, tão marcada pela simplicidade, pela ausência de ostentação, pela precariedade das acomodações a uma mãe a dar a luz um filho, e ao filho recém-nascido, nesta cena simples, humilde, pobre, faz-se presente, visivelmente, o Senhor e Rei da criação, o Salvador do gênero humano. Mas quem será este menino? De onde veio? O que o aguarda? São perguntas que hoje ainda se faz a seu respeito, apesar de termos as respostas, perguntas que se faziam exatamente no tempo em que nascera. É natural esta admiração e espanto a respeito do Menino Deus, pois Deus rompeu o limite da natureza humana, para entranhar-se na história dos homens assim como entranhou-se no ventre da Virgem Maria. Este Menino Deus, veio do lugar inacessível a natureza humana, pois seu ser é muito maior que esta pobre natureza. Por isso, o fato de ter-se feito homem, nascido de mulher, surgido num rosto de criança, é extremamente admirável, um mistério para todos os tempos. Mistério admirável de amor, que agora o sabemos! Mistério de amor porque veio até nós sob a aparência simples e humilde, de difícil credibilidade, justamente para tornar-se aquele que nos resgata da morte eterna, aquele que traz consigo o sinal da vida, que traz exortação para o amor como meio de vida entre os homens, que traz a verdadeira paz para a humanidade.

Nesta Noite Santa, estamos aqui com o objetivo de unirmo-nos aos pastores e anjos da cena evangélica (cf. Lc 2,8-14) para louvar e adorar o Menino Deus. É importante não deixarmos de olharmos atentamente para este evangelho, pois através dele contemplamos ainda mais o nascimento de nosso Salvador.

Mesmo o fato do recenseamento, publicado a toda aquela região pelo imperador César Augusto (cf. Lc 2,1), traz em si uma providencial atuação do homem no Plano de Deus. Este recenseamento – um senso que tem como objetivo saber o numero da população e também de como ela esta formada – serviu para deixar registrado na história a família na qual nascera e crescera Jesus Cristo. É um dado importante para provar a historicidade de tal nascimento, assim como da família, ou seja, José e Maria, como também afirmar mais claramente que Jesus nascera em uma família descendente do rei Davi, como afirmava as profecias. Deus desejava vir a nós, como nós, frágil na alvorecer da vida, contando necessariamente com a ajuda daqueles que o geraram. Nós nascemos assim, frágeis, basta olhar para uma criança, indefesa, sem a possibilidade intelectual, nem emocional de manifestar-se em sua defesa diante de algum perigo. Hoje presenciamos tristes episódios em que a vida humana é tratada diferentemente do que se passou com Jesus, tendo todo o cuidado necessário. Muitas vezes escutamos atônitos, várias noticias em que se fala do direito a maltratar e até matar crianças indefesas, mesmo antes de nascer. Diante da fragilidade com que Deus se manifestou a nós, é possível concordarmos com isso? Mesmo que tentem elaborar os mais escabrosos argumentos, evocando uma falsa liberdade sobre o próprio corpo, um falso “direito” de decidir?

Caríssimos irmãos, em nosso tempo, é mais que urgente nos voltar para a figura deste Menino que nesta Noite Santa, veio a nós, pois Ele quis mostrar-se assim para que não esquecêssemos do valor que uma vida possui mesmo antes de nascer, em sua concepção. É trágico perceber, que a humanidade caminha por um desvio, que inevitavelmente chegará ao abismo da própria destruição, senão material, espiritual. Hoje não é mais a guerra, com armas bélicas e muitos mortos, que colocam em risco a humanidade, mas mentiras elevadas a categoria de “verdade”, mentiras promovidas por grupos que não escondem sua raiva e ódio por Deus. Como se pode querer paz e harmonia entre os homens se não tiver a Deus? Mesmo quem diz não acreditar Nele, não tem o direito de promover uma destas mentiras, pois estaria elevando o próprio homem a categoria de um deus, opondo-se assim, a sua própria razão.

Voltando ao evangelho, percebemos que não foi fácil a José e Maria, estes momentos em que Jesus estava por nascer. Certamente, ainda pensavam no misterioso modo como este menino havia sido concebido. Certamente, enquanto andavam em direção a Belém, José tentava espantar ainda a desconfiança acerca da gravidez de Maria, assim como Maria tentava contemplar ainda mais estes momentos que viveu nos meses em que esperava o Senhor. Percebemos que a família de Jesus, Maria e José, é tão humana como a nossa, sentem e sofrem com as dúvidas e buscam certezas para pacificar seus espíritos. Com muita semelhança, podemos ver nesta família, a figura da nossa, que passa por muitos sofrimentos, dificuldades e dúvidas, também em relação a fé, mas que, mesmo caminhando na incerteza da vida, davam seus passos, na única certeza que não nos falha, a de que Deus estava com eles. É isto que precisamos sempre alimentar em nós, a de que Deus, independentemente das circunstâncias, sempre esta na vida daquele que O ama.

A história do nascimento de Jesus nos deixa com algumas curiosidades, e uma delas é o porque Maria teve que fazer a viagem com José, já que era somente ele que era obrigado a registrar-se no recenseamento feito pelos romanos. Como o evangelho não nos responde claramente, muitas hipóteses são levantadas, uma delas diz que os dois já estavam planejando mudar-se para Belém, visto que na Anunciação, o Anjo teria falado que Deus iria dar ao Menino, o trono de Davi (cf. Lc 1,32), e Belém era a cidade do rei Davi. Mas também poderia ser porque Maria simplesmente não quisesse ficar longe de José, visto que ela compreendia que os dois foram escolhidos por Deus para participar deste acontecimento. Das duas hipóteses, fica-nos evidente que Maria e José falavam entre si sobre o que lhes acontecera e de como procederiam para colaborar com os desígnios de Deus. Neste sentido, ir os dois a Belém teria sido a decisão mais certa, e o recenseamento até veio como uma confirmação desta decisão.

O momento do nascimento é tão envolto em mistério como em sublime exultação. Um nascimento milagroso, é o que podemos saber, mesmo com o relato de alguns santos que tiveram visões onde foi-lhes revelado a cena de tal nascimento, como algo extremamente luminoso, onde Maria não teria sentido sequer uma dor, tão natural nos partos. Onde simplesmente uma forte luz teria invadido aquele humilde ambiente, e então nascerá o Salvador, que logo fora envolto em faixas e posto na manjedoura (cf. BEATA ANA CATARINA EMMERICK. Visiones y revelaciones completas. Visiones del Antiguo Testamento. Visiones de la vida de Jesucristo y de su Madre Santissima. Buenos Aires. Guadalupe, 1952, t.II, pg. 211-220).

É neste momento único e esplêndido que o Céu se une a Terra, que o eterno e majestoso se faz presente no finito e humilde. A Igreja toda canta em seu louvor a Deus, este momento indizível em que a Onipotência divina toca a pequenez da criação. Sua presença entre nós traz não somente a esperança da salvação, mas o conhecimento do Deus a quem somente se conhecia pela fé nas palavras dos profetas e nos milagres conhecidos. Agora Ele se faz visível entre a humanidade. Por isso, o cântico de glória dos Anjos (cf. Lc 2,13-14), exaltando tão sublime acontecimento. Neste mesmo momento, estes anjos de Deus aparecem a pastores das redondezas para anunciar-lhe a Boa Nova do nascimento do Salvador (cf. Lc 2,9-12), convidando-os a irem a Seu encontro. Estes pastores faziam parte de uma classe social humilde, muito desprezada entre as demais atividades sociais. É significativo que estes Anjos tenham aparecido a eles, tornando-os os primeiros – fora Maria e José – a adorar o Menino Deus. É significativo porque se trata de mostrar a todos que Deus encontra mais facilmente o reconhecimento de sua grandeza entre os mais humildes, entre aqueles que sofrem por algum motivo, entre aqueles que sofrem perseguição injusta, que batalham honestamente pelo seu sustento, e mesmo assim são desprezados como seres “inferiores”.

No cântico dos Anjos, ouvimos o entoar “glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2,14). Glória a Deus nas alturas, pois é lá que reside aquele que nem o céu e a terra podem conter. Nas “alturas” não é um lugar, mas uma posição, pois se trata de colocar Deus no devido lugar diante da criação, acima dela, no alto, elevado em dignidade, sabedoria e poder. “Alturas” é a posição em que esta diante dos homens, pois ele orienta, acolhe e julga desde o lugar mais apropriado para cuidar dos seres humanos. Posição essa que lhe garante o afastamento necessário do ser humano, para que nós vivamos em liberdade, pois se estivéssemos muito próximos de Seu ser, não desejaríamos agir senão conforme o que Ele mandar.

“Paz na Terra”.

Em harmonia com essa “Glória a Deus nas alturas”, o Menino veio trazer a paz aos homens. Sim, Ele nos reconciliou com Deus, ensinou-nos a bem conhecer e amar o Pai, assim como nossos irmãos, e, morrendo por todos e cada um, convidou-nos à santidade.

[…] Mais uma vez nos aproximemos do presépio e adoremos o Menino, Príncipe da Paz, e ouçamos a voz de Isaías: “Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade, que traz as boas-novas e anuncia a libertação, que diz a Sião: Teu Deus reina!” (Is 52,7).

Eis o convite essencial para o mundo de hoje tomado pelas guerras, catástrofes e ameaças [de todo tipo]: ajoelhem-se e, juntamente com Maria, José e os pastores, ouça a saudação de São Paulo: “o Senhor da paz, Ele próprio, vos dê a paz, sempre e em todos os lugares” (2Ts 3,16).

(SCOGNAMIGLIO CLÃ DIAS, João. O inédito sobre os Evangelhos. Instituo Lumen Sapientiae. 2012, pg. 98-99)

Louvemos e exaltemos o grande Dom que veio do Céu.

Um santo Natal a todos.

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