Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo

Missa da Dia – Is 52,7-10 Hb 1,1-6 Jo 1,1-18

Pe. Valderi da Silva

Queridos imrãos e irmãs.

Passado a Santa Missa da Noite Luminosa do Natal, celebramos hoje a terceira Missa que a Liturgia nos ordena rezar: a Missa da Noite (Missa do Galo), a Missa da Madrugada (Missa da Aurora) e a Missa do Dia. Nesta celebração, a Liturgia da Palavra assume um tom mais profundo, fazendo-nos sair das narrações acerca do nascimento, isto para nos concentrarmos no personagem principal, fonte da Luz. Deixamos assim, os reflexos desta luz, deixamos de lado os personagens das cenas evangélicas, para que a Luz verdadeira tenha nossa plena atenção (cf. CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez Carne. Ed. Ave Maria, 2012, pg. 501).

Depois de termos visualizado a cena do nascimento de Jesus, como num quadro geral, onde vemos Maria, sua mãe, José, o esposo de Maria, os pastores e anjos, nos colocamos com mais atenção somente neste Menino que neste dia nasceu para nós (cf. Is 9,6). E é precisamente aqui, que procuramos responder uma pergunta: Quem é este Menino?

Uma primeira observação é a de que Ele não se assemelha a nós em tudo, pelo fato de um nascimento tão extraordinário. Os profetas falavam Dele como o portador daquilo que a humanidade tanto precisa, algo que esta além das forças puramente humanas, e que por este motivo, não seria justamente alguém como nós. Esta diferença para conosco a notamos nos Evangelhos, principalmente ao tratar este Menino como Luz para as nações. Ora, para algo ser luz para os povos, deve estar acima da natureza humana, deve ter em si, uma perfeição maior, deve possuir em si uma natureza donde brote esta luz, já que não pode ser apenas reflexo da luz, como nós podemos ser. Logo mais rezaremos o Creio, na sua versão mais longa, onde rezamos o seguinte artigo: “Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz”. Esta profissão de fé, que vêm desde o Concílio de Nicéia (Primeiro em 325 e Segundo em 787), é a expressão mais clara do que a Igreja crê neste Menino, isto fundamentado justamente neste Evangelho de João que aqui escutamos.

Partindo do Evangelho de João, percebemos que a eternidade é uma característica fundamental desta promessa que hoje se faz visível entre os homens. O evangelista ao iniciar seu Evangelho com estas palavras in principio erat Verbum – no início era a Palavra – nos insere dentro de uma realidade antes dos tempos, nos transporta para aquela vida divina antes da criação do Universo. Antes de tudo somente existia a eternidade divina, a pura vida sem começo nem fim, sem lugar nem contingência alguma. Parece-nos que João vai muito longe para iniciar seu evangelho, mas sua intenção é começar justamente nos recordando que tudo o que segue teve seu início na eternidade. O que esta lá no início do mundo? O Verbum, ou seja, a Palavra. Quando João fala aqui de verbum, não esta falando apenas de uma verbalização de algo, como ocorre conosco ao nos comunicar. Esta falando da própria ação de Deus. Esta “Palavra” é a manifestação autêntica do poder de Deus, é a atitude criadora Dele. Na Sua Palavra as coisas foram feitas, foram criadas. Dizemos que no simples pensar, Deus cria algo, pois seu ato de pensar e falar, são a mesma ação. Verificamos que toda a criação passou por este processo em Deus, ou seja, pensar e manifestar (falar), quando lemos neste evangelho que tudo foi feito por meio do Verbo (cf. Jo 1,3).

Na Palavra esta a vida (cf. Jo 1,4), pois Ela é que dá o suspiro vital ao ser humano, é esta Palavra que cria não somente o corpo, mas que anima o corpo, ou seja, não cria somente bonecos de barro, mas dá-lhes a alma. Por ser o portador da realização material e vital da criação, Dele (Verbum) deveria vir também a Luz que ilumina a vida da criação, pois de quem mais viria tal orientação?! Nisto já entendemos perfeitamente, que desta Palavra de Deus, temos o sustento da nossa vida, é Ele quem nos cria e sustenta numa vida para a qual Ele nos criou. Facilmente alguém pode pensar que sem Deus conseguirá viver igualmente, mas acontece que esta pessoa não percebe que é justamente por deixar Deus de lado é que não esta sendo um ser humano fiel a sua criação. Ele nos criou para si, não para nós mesmos.

Esta Palavra (Verbum), sabemos no Natal quem é, qual é seu rosto. Jesus Cristo, que hoje nasce para a humanidade ainda envolta nas trevas da ignorância, do descaso com o próprio ser humano, do desvio da vida divina. Ser humano que ainda anda pelo vale da escuridão, preferindo a penumbra da noite para favorecer seus pecados. Este Menino que nasce, é a Luz para iluminar estes lugares sombrios e tirar aqueles que vivem, na sombra da morte.

Et Verbum caro factum est (Jo 1,14), com estas simples palavras, presenciamos o maior rompimento da dimensão espiritual-material. O Deus Onipotente, para colocar Seu plano de salvação do gênero humano em andamento, envia Seu Filho ao mundo. Este Filho é a sua verbalização, é a sua manifestação. Nele conhecemos o poder de Deus e Sua vontade. Este é o Mistério da identidade deste Menino que hoje celebramos: sua natureza Divina vai além do que podemos imaginar, Seu poder é o de Deus mesmo, já que Ele e o Pai são um (cf. Jo 10,30).

Podemos perceber a dinâmica deste Evangelho que não apensa contempla Jesus antes dos tempos, mas nos mostra o mesmo Deus Filho em dois três momentos: Sua origem pré-existente; Sua encarnação, e com isso, Sua presença visível entre os homens; e Sua presença constante pela graça. Este evangelho de João nos mostra um Jesus completo, sem esquecer de nada a Seu respeito. Um ser Divino, que fez-se humano (menos pecador) na necessidade de nos resgatar da morte eterna, e para completar sua obra, a presença sempre sensível de Sua graça, que nos auxilia e da força para vencermos a nós mesmos.

Neste dia do Natal de Nosso Senhor, temos esta necessidade como cristãos de verificar se conseguimos identificar este rosto divino no Menino nascido em Belém, e também perceber que nada esta isento de adorá-Lo e servi-Lo, como fizeram os pastores.

Quem pode adorá-Lo? Todos os seres humanos, independentemente da condição atual de suas vidas – santos, pecadores, pobres, ricos, velhos, jovens, trabalhadores, presos, etc. Todos possuem o direito e a necessidade de adorar o Menino que foi-nos dado como presente, para nos salvar do pecado, e conduzir-nos para a vida eterna.

Tudo aquilo que escutamos é empolgante, mas nos impõe um compromisso bem claro: não dissipar nossa filiação: “Reconhece, cristão – exclama São Leão Magno -, a tua dignidade e, tornado participante da natureza divina, não queiras voltar à baixeza de um tempo com uma conduta indigna. Recorda-te de quem é tua Cabeça, de qual corpo és membro” (CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez Carne. Ed. Ave Maria, 2012, pg. 504). Disto podemos fazer sempre o alerta para nós, para que nunca esmorecemos diante do nosso compromisso de estar sempre vigilantes, pois aquele que em nada depende de nós, fez tamanho esforço para fazer-se assim, frágil e pequeno, para desenvolver-se e dar Sua vida em benefício da nossa.

Um santo e feliz Natal a todos!

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