Sagrada Família: Jesus, Maria e José

Eclo 3,3-7.14-17a Cl 3,12-21 Lc 2,41-52

Pe. Valderi da Silva

Queridos irmãos e irmãs.

Nesta liturgia de hoje, celebramos a festa em honra da Sagrada Família de Nazaré: Jesus, Maria e José. Logo a primeira vista, admitimos, como cristãos, que estes personagens – um divino e dois santificados pela graça – são os mais excelentes exemplos de família que podemos ter para guiarmos a nossa. Mas é necessário contemplar mais esta família para nos convencermos mais ainda disso, afim de nos movermos a imitá-los definitivamente, se ainda não fazemos.

A liturgia da Palavra justamente nos oferece estas leituras, nos direcionando para tal reflexão. Precisamos partir deste evangelho que escutamos, onde apresenta-se a nós a cena desta santa família indo ao Templo de Jerusalém para a tradicional festa da Páscoa (cf. Lc 2,41). Tendo realizado o necessário, unem-se a caravana para retornar para casa, mas aconteceu que Jesus ficou em Jerusalém (cf. Lc 2,43). Depois de o procurarem por algum tempo, Maria e José o encontram entre os mestres judeus, escutando e interrogando-lhes (cf. Lc 2,46b). A partir deste evangelho podemos obter duas linhas para nossa contemplação.

Primeiramente, lembrando do que antes era falado, de que logo percebemos que esta família deve ser o exemplo a imitar para a nossa, vemos na atitude de cada membro da família de Nazaré, virtudes muito úteis para nossa vida familiar, virtudes que em linhas gerais estão expressas nestas leituras antes proclamas. Olhando para Maria, precisamos ver além da pessoa totalmente santa que era, pois sua vida diária era como a das outras mulheres que eram esposas e mães. Com seus trabalhos domésticos, com sua fatigas e desgostos quando algo não lhe acontecia como esperava. As dificuldades que muitas mães enfrentam hoje, no dia a dia, não são tão diferentes do que teve que enfrentar Maria. Mesmo ao pensar que para ela era mais fácil, pois tinha um marido que vivia santamente e um filho divino. Mas não podemos esquecer que, aos santos também advêm as dificuldades, pois não é a falta de dificuldades que os faz santos, mas é por saber viver temendo a Deus mesmo tendo-as. Podemos imaginar que Maria também se fatigava com o marido, pois apesar da caridade e do amor que José tinha por ela, seu trabalho como carpinteiro também rendia a Maria um esforço por manter a casa organizada e também o cuidado com as coisas de José. O filho, que tanto contemplava por saber de sua origem divina, como qualquer criança, dava-lhe certamente o trabalho do cuidado e da orientação. O importante destas claras ideias sobre a Maria esposa e mãe, é perceber que mesmo assim, nunca descuidou de amar a Deus e crescer nas virtudes. Por isso, hoje as mães podem ver nela a imagem da perfeita mãe, daquela que as ensina como viver com o marido e como ser mãe para os filhos.

José viveu sempre na solidez da fé. Podemos até dizer que vivia contemplando admiravelmente Jesus e sua esposa Maria, um pelo que é, o outro pelo que a graça de Deus fez. Ele sempre é lembrado com muito carinho por ser um varão justo e trabalhador, exemplo de honestidade e comprometimento com a dignidade do homem. Jesus, certamente cresceu ouvindo muitos conselhos de José, que não sem receio os dava. Isto era importante mesmo para Jesus, pois ao mesmo tempo em que crescia sua consciência divina, amadurecia como ser humano. As virtudes de José, são inegavelmente necessárias a todos os homens, não somente aos casados e pais, mas principalmente. Vemos uma delas justamente no momento mais dramático de sua vida com Maria, aquele em que descobriu que ela estava grávida. Não querendo denunciá-la, pois sabia que ela seria tida como pecadora na sociedade, decidiu ele fugir (cf. Mt 1,19) e assim, assumir a possível culpa! Preferiu ele ser zombado e tido como pecador do que deixar aquela que amava sofrer algum castigo, mesmo que realmente fosse culpada. Ouvimos a recomendação de São Paulo aos Colossenses, “maridos, amai as vossas esposas e não sejais grosseiros com elas” (Cl 3,19), esta recomendação vêm precisamente de encontro com esta ação virtuosa de José, pois o marido mesmo cansado do trabalho, mesmo tendo sofrido com a labuta do dia, deve amar sempre sua esposa como Jesus Cristo sempre ama Sua Igreja e dá a vida por Ela (cf. Ef 5,25).

O que podem aprender com tudo isso os pais cristãos, que vivem hoje toda a problemática do relacionamento com os próprios filhos? Seríamos tentados a dizer: nada de imediato; os tempos eram tão diferentes e as pessoas envolvidas naquele caso eram tão diferentes também: o Filho de Deus, Nossa Senhora, São José! Ao invés, nas imagens descritas no Evangelho está contido o segredo fundamental de qualquer educação: Jesus era submisso a seus pais, porque seus pais eram submissos a Deus! É utopia falar de educação – ao menos educação cristã – se a família não apresenta algumas condições preliminares. A primeira dessas condições é uma vida espiritual sadia que mantenha a família na presença de Deus, debaixo de sua luz e de sua benção. Dizer vida espiritual significa dizer oração pessoal e familiar, frequência aos sacramentos e escuta da Palavra de Deus, amor mútuo e ao próximo. (CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se faz carne. Ed. Ave Maria. 2012, pg. 506)

Mas e Jesus? O Menino Deus, desde criança nos é exemplo de vida junto de Deus. Sua atitude de ficar no Templo sem muito se importar com a preocupação dos pais, deve ser vista ao mesmo tempo como ansiedade de levar a Boa Nova aos homens e mulheres, e como atitude despreocupada, própria de adolescente. Neste episódio, vemos em Jesus a necessidade de começar desde cedo a escutar e perguntar sobre Deus e Sua vontade. Na família deve-se buscar isso para as crianças, fazê-las crescer num ambiente onde se fala de Deus, onde se medita a Sagrada Escritura. Jesus certamente ouvia José e Maria falar das Escrituras, falava com eles a respeito, por isso não foi-lhe difícil ficar no Templo escutando e perguntando aos mestres sobre as Escrituras. Sua consciência divina o fazia mostrar através das perguntas sua sabedoria fora do comum, por isso também a admiração dos mestres (cf. Lc 2,47).

Aos filhos, a Palavra de Deus também dirige sua orientação. Todos nós que aqui estamos, somos filhos, e por isso, é dirigida a nós todos estas palavras que escutamos. No livro do Eclesiástico ouvimos uma firme orientação: “quem honra seu pai, alcança o perdão dos pecados, evita cometê-los e será ouvido na oração quotidiana. Quem respeita sua mãe é como quem ajunta tesouros” (Eclo 3,4-5). É como se destas palavras, saíssem uma forte admoestação: Ouçam todos os filhos que quereis amar a Deus: não se ama a Deus se não há respeito e obediência a seus pais! Não se obterá a benção dos céus, nem o perdão dos pecados se não há submissão dos filhos aos pais!

Nossa família humana, com suas singularidades, pode ser reflexo desta Santa Família de Nazaré. Não duvidemos de que isto é possível, mesmo que a custo de muita oração, esforço e paciência.

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