São João, Evangelista e Apóstolo

1Jo 1,1-4 Jo 20,2-8

Pe. Valderi da Silva

A Igreja celebra neste dia a memória do apóstolo e evangelista João. Sua vida é ao mesmo tempo clara em determinados pontos, principalmente junto de Jesus, até sua Ressurreição e Ascensão, e cheia de incertezas a respeito do restante de seus dias. Sabemos que João é o autor do quarto evangelho e do Apocalipse, mas existem as cartas que lhe foram atribuídas, que muitos chegam a acreditam que não exatamente escritas por ele, João o apóstolo, mas talvez por discípulos de João. O que aparece aqui, é que ainda persiste uma incerteza sobre a autoria precisa das determinadas cartas, colocando-nos diante de “dois Joãos”: um do evangelho e do Apocalipse e outro das cartas. Diante desta dúvida, o que todos concordam é que sendo ou não discípulos de João que escreveram as cartas e talvez algum pedaço do próprio evangelho, o espírito na escrita permanece o mesmo, fiel ao “discípulo amado” do Senhor.

São João, antes de evangelista, fora apóstolo, e com isso adquiriu uma autoridade no anúncio de Jesus Cristo, que lhe dá o crédito sobre todos os escritos. Na verdade, sua maior carta de autoridade é a que os outros apóstolos também tiveram, de ser testemunha ocular das maravilhas operadas pelo Cristo. Mas mesmo entre os apóstolos, João teve um certo privilégio, por exemplo ao chegar primeiro ao túmulo onde deveria estar repousando o corpo do Senhor, sendo o primeiro, entre os apóstolos, a testemunhar que Jesus já não estava lá (cf. Jo 20,1-5).

São João, possivelmente era o mais jovem entre todos os apóstolos, e por isso pareceu surgir um cuidado mais terno de Jesus a ele, levando o apóstolo mesmo a se identificar como “aquele que Jesus amava”. Na cena da última ceia, pintada por Leonardo da Vinci, existe uma figura colocada ao lado direito de Jesus, com feições mais suaves e jovem. É impossível não perceber de que se trata do apóstolo João, visto não outra figura mais jovem no grupo pintado pelo artista, além do que, é injusto com o mesmo artista imaginar que ele não tenha estudado o evangelho para saber que João era o discípulo amado, o mais jovem e que merecia ter um certo destaque, sentando ao lado do Mestre.

Como todo apóstolo, João recebeu a infusão do Espírito Santo para anunciar o Evangelho de Cristo. Por isso, ele sai a anunciar logo após ter cuidado da Virgem Maria – como lhe fora incumbido pelo Senhor em agonia na cruz (cf. Jo 19,25-27) -, o Evangelho juntamente com os demais apóstolos. O que nos passa é um verdadeiro comprometimento com a verdade revelada por Cristo, por isso afirma com Pedro: “julgai vós mesmos, se é justo diante de Deus que obedeçamos a vós e não a Deus! Quanto a nós, não nos podemos calar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,19-20). No início da Primeira Carta, lemos sua declaração a este respeito: “o que era desde o princípio, o que nós ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida […], isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que estejais em comunhão conosco” (1Jo 1,1-3).

O evangelista João nos deixa não somente mais uma narração evangélica acerca da vida de Jesus, mas uma verdadeira “suma teológica” ao mesmo que narrativa da vida e obra de Jesus de Nazaré. Sem esquecer de mencionar lugares e pessoas, João nos leva a contemplar os quadros da vida do Mestre, principalmente, naqueles que esteve presente. Sua presença viva durante os milagres, na entrada em Jerusalém, sua presença corajosa durante toda a paixão de Jesus e também no momento de Sua morte na cruz, além do já citado momento da Ressurreição, associado a uma possível personalidade contemplativa, o faz narrar ao mesmo que ora e medita sobre cada ação de Jesus. Por este motivo, a Igreja não coloca o Evangelho de João como os demais no ano litúrgico, deixando o reservado para momentos específicos como a Semana Santa e o Natal.

Hoje, podemos ver em João, alguém que teve o mesmo chamado dos demais apóstolos, que não foi maior que eles em santidade, mas também não foi o menor em graça diante de Deus. Dele tiramos a motivação para contemplar mais a face misteriosa de Deus, que na vida de cada pessoa se manifesta misteriosa e providencialmente. Como cristãos, precisando sempre mais aprender dos evangelhos, podemos tomar estes escritos de João como nosso livro espiritual, lendo-os como quem reza ao mesmo tempo, contemplando cada palavra fixada pelo escritor sagrado neste admirável livro.

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