I Domingo da Quaresma

Dt 26,4-10 Rm 10,8-13 Lc 4,1-13
Valderi da Silva
Estimados irmãos e irmãs.
Desde a quarta-feira de cinzas estamos mudando nosso clima reflexivo para o que a Quaresmo nos pede, um momento de maior reflexão pessoal, um momento de maior esforço íntimo para abraçar corajosamente a exigência cristã. Neste sentido é que alguns temas nesta quaresma são de fundamental importância para cada cristão considerar, transportando-os diretamente para suas vidas na intenção de analisar a conformidade com o que nossa fé nos pede, e identificando os pontos em que se precisa trabalhar mais clara e fortemente.

Neste primeiro Domingo da Quaresma, a liturgia da Igreja nos traz o momento em que Jesus é levado até uma região isolada, para rezar (cf. Lc 4,1). Nesta região desértica, fora do alcance da população Jesus foi fazer um grande retiro espiritual, e algo que sempre surge nestes momentos em que nos colocamos em oração para estar mais perto de Deus, se aproximou de Jesus, isto é, algumas tentações. A tentação é a possibilidade de fugirmos daquela regra que alguém nos colocou como obrigação. A tentação não é uma pessoa, nem é tão forte que seja impossível resisti-la, pois é apenas uma possibilidade, não uma necessidade ou obrigação. Assim, por exemplo, posso ser tentando a dormir no horário de trabalho ou de estudo, é uma possibilidade que se apresenta a mim, mas não é uma necessidade minha, nem obrigação. A pessoa esta livre para “desobedecer” a lei ou obrigação de trabalhar no horário de trabalho ou estudar no horário de estudo. Isto digo, para que fique cada vez mais claro a nós que a tentação não é o pecado, ou seja, sofrer a tentação não significa que já se tenha cometido o pecado, mas a tentação se transforma em pecado quando concordo com ela, e fujo da regra que deveria estar seguindo.

Pois bem, nisto parece claro que nossa obrigação esta mais em nos fortalecermos espiritualmente para resistir a possibilidade do pecado, do que desesperadamente fugir da tentação. Principalmente nos tempos de agora, em que se torna quase impossível viver longe de algo que nos ofereça possibilidade de pecar.

Voltando a este evangelho, temos registradas as tentações que Jesus sofreu, neste momento em que estava isolado e sozinho. Primeiramente, é preciso lembrar que a tentação ao pecado é algo que se apresenta a nós em várias circunstâncias, mas que intensifica sua força quando não estamos convictos de nossa fé em Deus. Existe uma realidade maligna que chamamos de diabo, este não cria o pecado, mas tenta nos levar a cada momento de nossa vida a realizá-lo, ou seja, não é ele quem leva a culpa por pecar, mas aquele que comete o pecado. É por este motivo que Jesus deixou-se conduzir até o deserto, para deixar mais claro que nada interfere em nossa liberdade, nem Deus, nem o diabo. Somos nós, que livremente decidimos fazer o que Deus nos pede, ou fazer o que é mais fácil e conveniente, sendo que este último pode geralmente nos levar ao pecado.

São apresentadas três tentações que o diabo intensifica para Jesus. A primeira delas é a tentação referente a saciedade pela facilidade, ou seja, Jesus sendo Filho de Deus tinha o poder de fazer surgir o alimento para saciar sua fome. Mas isto o destituiria da missão de provar a força da natureza humana diante do mal. Também seria uma fraqueza de Jesus, mostrando-se infiel ao propósito pelo qual estava no deserto. Seguir o caminho mais fácil, esta é a finalidade da tentação, e sabemos que geralmente o caminho mais fácil leva a desobediência da Lei de Deus. Jesus responde ao diabo com palavras da Escritura, nutrindo-se naquele momento – e mostrando a nós hoje – que o ser humano não pode viver somente do que lhe é sensível, ou seja, das coisas materiais como o alimento corporal, o prazer, o luxo, o dinheiro, o trabalho, o estudo, enfim, tudo o que faz parte deste nosso mundo visível. Existe uma dimensão no ser humano que nunca deve ser esquecida, pois ela é quem mantem a dignidade do ser humano enquanto filho de Deus: a dimensão espiritual. Ela não se alimenta somente do pão, mas de toda Palavra de Deus (cf. Lc 4,4).

Numa segunda tentação, o diabo leva Jesus ao “topo do mundo”, e mostra toda a riqueza e poder que ele pode entregar a alguém. Duas coisas que facilmente encantam e ludibriam o ser humano, mas que pede um alto preço. Quando o ser humano deixa-se cativar pela busca da riqueza e do poder pode acabar usando-se de qualquer arma para conseguir o que deseja, isto o leva a passar por cima de tudo e de todos. Por este motivo o preço a ser-lhe cobrado será muito alto, pois vendeu a si mesmo para uma vida aparentemente feliz. Nisto esta a inconsciente adoração ao pecado, que consequentemente é uma adoração ao maligno. Cristo dá a resposta que devemos sempre dar diante da tentação do fácil riqueza e poder: “A Escritura diz: 'Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás'” (Lc 4,8). Neste preceito de adoração única e exclusiva a Deus, se aprende a não cobiçar e nem se apaixonar loucamente pela busca da riqueza e do poder. Isto é efêmero diante do tesouro que podemos juntar em Deus. Nossa “cobiça” deveria ser juntar este tesouro no Céu, para a vida eterna, onde o brilho da felicidade e da paz nunca se desfazem ao contrário da prata e do ouro, ou se desvalorizam, como o dinheiro.

Na terceira tentação o diabo leva Jesus a uma grande montanha e pede para Jesus se jogar do alto, a fim de que possa mandar anjos para lhe assegurar a vida. Pois bem, numa desesperada tentativa o demônio tenta o poder de Deus, querendo força-Lo a fazer algo contra a Sua vontade. “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Lc 4,12), neste outro preceito divino esta a orientação a cerca de nossa atitude diante do Altíssimo, principalmente quando nos encontramos as vezes, angustiados e a beira do desespero. Nunca devemos ceder a tentação de colocar Deus a prova, de intimidá-Lo, como que exigindo que Ele nos faça o que pedimos. O contrário é um exercício de confiança plena em Deus, de abandono filial a sua providência divina, algo que contraria o pecado, por este motivo, a atitude mais fácil muitas vezes é ceder a intimidação para com Deus, ao invés de colocar tudo em Suas mãos!

Queridos irmãos e irmãs. Este evangelho precisa ser uma largada para nossa reflexão nessa Quaresma, pois nestas tentações que Nosso Senhor sofreu estão as mais velhas e fortes quedas do ser humano. Por este motivo é colocado também estes versículos no primeiro domingo deste tempo quaresmal, para que observando este momento na vida de Jesus, possamos captar o essencial para nossa perfeita conversão a Deus, livrando-nos da nossa tendencia a ceder a desobediência aos Mandamentos de Deus e também ceder ao acomodamento que não nos deixa crescer cada vez mais na fé.

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