V Domingo da Quaresma

Is 43,16-21 Fl 3,8-14 Jo 8,1-11

Pe. Valderi da Silva

Caríssimos irmãos e irmãs.

Neste último domingo da Quaresma já podemos perceber o quanto a bondade de Deus é infinita em relação a nós. Durante estas semanais de exercícios quaresmais, podemos perceber que, gradativamente, Nosso Senhor nos foi apresentando e educando a cerca da firme vivência da Vontade de Deus, moldando nossas vidas – costumes, hábitos, inteligência e vontade – a Sua Palavra. O necessário reconhecimento de nossos modos distorcidos de vida, de nossos pecados deve seguir um arrependimento claro e sereno, disposto a suportar todas as exigências que a fé nos impõe. Alguém decidido a viver assim, verá a verdadeira face de Jesus, assim como Pedro, João e Tiago puderam ver já na Transfiguração do Senhor (cf. , II Dom. Quaresma). Nossa firme atitude de vencer os gostos e opiniões do mundo nos deixaram mais esclarecidos a cerca da humildade que precisamos ter conosco e com os irmãos, não caindo na tentação de acharmo-nos menos pecadores do que outros (cf. Lc 13,1-9, III Dom. Quaresma), mas pelo contrário, sacrificar-se ainda mais pela salvação pessoal, algo que nos levará a ter semelhante compaixão e compreensão de amor que Jesus ao acolher os já manchados pelos pecados pessoais, não os julgando, pois sabendo-nos sem esse direito e poder, (cf. Lc 15,1-3.11-32, IV Dom. Quaresma).

O evangelho deste domingo segue a mesma temática do domingo anterior: a bondade de Deus com os arrependidos de seus pecados.

Diz o evangelho que estando Jesus no Templo, aproximou-se dele alguns mestres da Lei e fariseus trazendo uma mulher flagrada em adultério (cf. Jo 8,2-3), crime grave com pena de morte (Lv 20,10). Primeiramente é importante lembrar que a sociedade daquela época não separava claramente o estado civil do religioso, ou seja, um pecado grave era ao mesmo tempo um crime grave, por isso que o juiz naturalmente era alguma autoridade máxima religiosa ou alguém da hierarquia. Esta lei mencionada pelos fariseus e mestres da Lei é tirada de Levítico (20,10) onde diz que “o homem que cometer adultério com a mulher do seu próximo deverá morrer, tanto ele como sua cúmplice”. O que naturalmente nos perguntamos é o porque o homem também não foi levado para receber a punição. Talvez tenha fugido, mas o fato é que aqueles que levaram a mulher até Jesus não se preocuparam em julgar e fazer justiça conforme a Lei, mas em encontrar argumentos para incriminar Jesus, pois era Ele que os incomodava. A mulher adultera foi, para os mestres da Lei e fariseus, apenas um artifício para tentar acusar Jesus e assim o prender, pois se Ele diz para cumprir a sentença iria se contradizer no discurso de perdão e misericórdia, mas se diz para deixá-la em paz, vai contra a Lei de Moisés, mostrando não obedecer a Palavra de Deus. Precisamos perceber a malícia destes mestres da Lei e fariseus, pois é precisamente esta atitude deles que todo ser humano pode carregar em si por conta do consentimento ao pecado. Utilizar-se da Lei de Deus transmitida pelos profetas, manipular e dar voltas na Sagrada Escritura é típico de corações maliciosos que tendem a querer que a Lei de Deus trabalhe para eles e não desejam se sujeitar eles mesmos a esta Lei.

Uma atitude que não parece ser muito incomum também entre os cristãos, pois de maneira mais branda, um cristão pode por vezes, tentar apaziguar sua consciência em relação aos pecados cometidos, utilizando de semelhantes artifícios, como tentar se convencer de que nem tudo que esta na Sagrada Escritura é preciso seguir; de que a Igreja esta utilizando uma interpretação que não se adéqua aos costumes de hoje; dizendo para si mesmo que talvez o que dizia ser pecado no passado agora não é mais, etc. Tudo isto são pequenas falas ou pensamentos daquele que deseja deturpar a verdade revelada na Sagrada Escritura para apaziguar sua consciência, convencendo-se de que não é pecado o que ele faz. Mas mesmo pensando assim, este mesmo cristão cai inevitavelmente noutro erro também consequente de sua incoerência moral: julgar os que erram. Olhamos para os mestres da Lei e fariseus deste evangelho. Todos ali entendiam que suas vidas não eram perfeitas, que também cometiam pecados. Como julgar sem que meu julgamento julgue a mim mesmo? É por isso que na relação pessoal com Deus, o único que julga, absolve ou pune é Deus, aquele que têm a idoneidade e autoridade para isso.

É preciso lembrar de outra característica importante desta atitude de Jesus para com os pecadores: o mérito do arrependimento. Nesta cena evangélica Jesus não chega a perguntar a mulher se ela estava arrependida pelo pecado realizado, mas certamente compreende que a possibilidade de ser morte e a vergonha por ter sido exposta de tal forma publicamente como adúltera, deve ter gerado nela um sincero arrependimento. Mas como sabemos, este arrependimento deve estar seguido de um profundo e sincero esforço para não mais pecar, ou seja, empenho sincero e decidido por não ceder mais a tentação ao pecado. É por este motivo que ouvimos Jesus dizer a mulher “de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11b).

Fica claro também que o mérito de julgar os pecados feitos contra Deus cabe somente a Deus, e isto o vemos na atitude central de Jesus neste evangelho: “quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). Uma resposta que certamente os mestres da Lei e fariseus não esperavam, mas que os desarmou de maneira a deixar em paz aquela mulher. O perdão dado por Deus não tirou do ser daquela mulher o fato de que ela errou, assim como acontece conosco no momento da absolvição sacramental. Mas restituiu-lhe a possibilidade de viver uma vida segundo a Vontade de Deus, recebendo todas as graças que vivendo assim, se pode receber.

Neste último domingo da Quaresma somos convidados pela Liturgia da Igreja a compreendermos melhor a necessidade do arrependimento, do pedir perdão a Deus, e de viver a humildade que este estado de pecador nos exige, sem nos inclinar a julgarmos ninguém, nem de utilizarmos o que já sabemos da Sagrada Escritura de modo torpe para um possível proveito pessoal.

É magnífico percebermos a imensa bondade de Deus, que mesmo sabendo de nossa indignidade, nos procura e nos convida sempre ao retorno para Sua vida, retorno para Seu caminho que porventura possamos ter nos desviados quando corremos atrás de nossos próprios desejos, prazeres e ganâncias. Ele nos procura como o Bom Pastor que busca a ovelha perdida, ao mesmo tempo que nos admoesta quanto a verdadeira atitude interior de superação das tentações que existem somente para desfigurar nossa vida, dando-nos uma falsa felicidade, replete de coisas momentâneas mas que se desfazem com o tempo. Seu amor infinito nos perdoa quando percebe a sinceridade do arrependimento e a honestidade em buscar corrigir-se. Nosso Senhor não nos abandonou quanto a este perdão quando subiu ao Céu, deixou-nos em Sua Igreja o sacramento da confissão, precisamente como realidade visível deste Seu amor por quem humildemente procura se reconciliar com Deus.

Crendo neste perdão divino, não demoremos em buscar esta graça para nossa vida, pois sem ela fica-nos cada vez mais difícil conhecer e amar a Deus de todo coração.

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