Tópicos históricos do Concílio Vaticano II

Mons. Vitaliano Mattioli*

Em 25 de janeiro de 1959 o Papa João XXIII, depois de um pontifical solene na Basílica de São Paulo, anunciou aos Cardeais o projeto de realizar um novo Concílio.

A surpresa foi grande porque João XXIII tinha sido eleito Papa em 28 de outubro do ano anterior.Joao XXIII

Mais tarde soube-se que já o seu predecessor, Pio XII, teve essa ideia e, em segredo, começou os trabalhos preparatórios. Mas depois pensou que o tempo ainda não estava maduro.

João XXIII começou os preparativos no mês de maio seguinte constituindo a Pontifícia Comissão Antepreparatória. Nomeou Mons. Pericle Felici secretário da mesma.

Em junho de 1960 com o Motu proprio Superno Dei  instituiu as 11 Comissões preparatórias: teologia, bispos e governo das dioceses, disciplina do clero e do povo cristão, religiosos, sacramentos, liturgia, seminários, igrejas orientais, missões, leigos.

Finalmente no dia 11 de outubro de 1962 foi aberto oficialmente o novo Concílio. O Papa escolheu esta data porque, então, nesse dia celebrava-se a festa de Maria, Teothokos, Mãe de Deus. De tal forma manifestou a intenção de colocar o desempenho do Concílio sob a proteção de Maria.

O discurso de Santa Missa de abertura, Gaudet Mater Ecclesia, apontou as diretrizes do Concílio e motivou a oportunidade de celebrar o novo Concílio. Disse que o objetivo principal do Concílio deve ser a apresentação, defesa e difusão do sagrado depósito da doutrina cristã: “5.1. O que mais interessa para o Concílio é que o sagrado depósito da doutrina cristã seja custodiado e ensinado da forma mais eficaz. Tal doutrina abraça o homem integral, composto de alma e de corpo, e a nós, que moramos nessa terra, nos manda buscar como peregrinos a pátria celeste ... 2. O vigésimo primeiro Concílio Ecumênico ... quer transmitir de forma integral, não falseada, não em parte, a doutrina Católica”.

Em seguida, se move sobre o modo de se comportar da Igreja em torno aos erros doutrinários: "Abrindo o Concílio Ecumênico Vaticano II, é claro mais do que nunca que a verdade do Senhor permanece para sempre. 2. Não houve tempo em que a Igreja não se opôs a estes erros; muitas vezes também os condenou, e as vezes com a maior severidade. Quanto ao tempo presente, a Esposa de Cristo prefere usar o remédio da misericórdia ao invés de usar as armas do rigor; pensa que deva-se atender as necessidades de hoje, expondo mais claramente o valor do seu ensino e não condenando.

O discurso de abertura termina expressando o desejo de promover a unidade na família cristã e humana porque: "Infelizmente toda a família cristã ainda não conseguiu plenamente essa unidade visível na verdade."

A primeira sessão terminou no dia 8 de dezembro de 1962. Os trabalhos foram atualizados pelo mês de setembro do ano seguinte.

Concilio Vaticano II d Enquanto isso, no dia 3 de junho de 1963 o Papa João XXIII morreu. Automaticamente com a morte do Papa, o Concílio foi suspenso. Corresponde ao sucessor continuá-lo ou não.

O novo Papa eleito no dia 21 de junho foi Giovanni Battista Montini, que tomou o nome de Paulo VI. Ele expressou imediatamente o desejo de continuar o Concílio.

A segunda sessão foi aberta no dia 29 de setembro de 1963 e terminou no dia 4 de dezembro de 1963.

Em seu discurso de abertura, Paulo VI apresentou os quatro objetivos do Concílio: “Resumiremos em quatro pontos, que são: a definição ou, se preferir, a consciência de Igreja, a sua reforma, a restauração da unidade entre todos os cristãos e o diálogo da Igreja com os homens contemporâneos”.

Em janeiro de 1964 Paulo VI fez a histórica visita à Terra Santa seja para retornar às origens do cristianismo, como para reacender as relações entre a religião hebraica e o Estado de Israel, ainda não reconhecido oficialmente pela Santa Sé. Mas também para fazer novas  alianças com a Igreja Ortodoxa. Comovente e único na história anterior foi o encontro e o abraço em Jerusalém entre Paulo VI e Atenágoras, Patriarca de Constantinopla.

"A terceira sessão foi a do 14 de setembro de 1964 a 21 de novembro. Em seu discurso de encerramento, Paulo VI proclamou Maria: Mãe da Igreja: "Por esta razão, parece-nos necessário que nesta sessão pública anunciemos publicamente um título com o qual seja honrada a Beata Virgem Maria, que foi solicitado por diversas partes do mundo católico e nos é especialmente caro e aceitável, porque com admirável síntese expressa a posição privilegiada que na Igreja este Concílio reconheceu ser própria da Mãe de Deus.

Por isso para a glória da Beata Virgem e para a nossa consolação declaramos Maria Santíssima Mãe da Igreja, ou seja de todo o povo cristão, seja dos fieis que dos Pastores, que a chamamos Mãe amadíssima; e estabelecemos que com este título todo o povo cristão a partir de agora honre ainda mais a Mãe de Deus e lhe dirija súplicas”.

A quarta sessão: aberta no dia 14 de Setembro de 1965, terminou no dia 8 de dezembro de 1965, festa da Imaculada Conceição.

No discurso de abertura caracterizou dessa forma o Concílio: "Não parece difícil dar ao nosso Concílio Ecuménico o caráter de um ato de amor: de um grande e tríplice ato de amor: para com Deus, para com a igreja, para com a humanidade".

Nesta sessão, no dia 4 de outubro de 1965, Paulo VI visitou a Assembléia das Nações Unidas em Nova York, oficialmente convidado para celebrar o vigésimo aniversário da ONU.

No dia 18 de novembro de 1965 Paulo VI, perto do encerramento do Concílio deu um discurso falando da atitude que se deveria ter no pós-concílio, quase que prevendo a confusão que aconteceria em seguida.  "Veneráveis ​​Irmãos, não devemos tanto prestar atenção a essas reformas necessárias, mas sim àquelas morais e espirituais, que nos façam mais em conformidade com o nosso Divino Mestre e mais aptos para os deveres da nossa respectiva vocação. Devemos principalmente esperar isso: a nossa efetiva santificação e a real capacidade de difundir entre os homens do nosso tempo a mensagem evangélica”.Concilio Vaticano II e

No dia 7 de dezembro de 1965, véspera do encerramento, celebrou-se a Santa Missa da última sessão. Paulo VI na homilia resumiu dessa forma todo o Concílio: "No rosto de cada homem deve-se ver o rosto de Cristo, e neles, aquele do Pai Celestial. Para conhecer a Deus é preciso conhecer o homem. Amar a Deus para amar o homem. Todo este Concílio resume-se no seu significado conclusivo religioso, como um poderoso convite à humanidade de hoje a encontrar, através do amor fraterno, a Deus”.

No final da celebração eucarística aconteceu um fato importante. Paulo VI com a Carta Apostólica Ambulate in Dilectione, aboliu a excomunhão imposta no dia 16 de julho de 1054 ao Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário. Ao mesmo tempo em Constantinopla (Istambul), o Patriarca Atenágoras, revogava a excomunhão do Seu predecessor ao Papa Leão IX. Assim a Carta de Paulo VI: "Queremos eliminar da memória da Igreja a sentença de excomunhão emitida então, tirá-la do caminho, e a queremos enterrada no esquecimento e apagada. Temos o prazer de que nos seja dada a oportunidade de realizar este ato de caridade fraterna aqui em Roma, ao lado do túmulo do Apóstolo Pedro, no mesmo dia em que o mesmo acontece em Constantinopla (Istambul), que é chamada de Nova Roma." O Card. Johannes Willebrands leu a Declaração Conjunta da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa de Constantinopla. Logo depois, o Cardeal Agostino Bea leu a carta citadaAmbulate in Dilectione.  

Os documentos conciliares são:

Quatro Constituições:

Sacrosanctum Concilium (sobre a Liturgia), 4 de dezembro de 1963 (2178 eleitores, 2159 placet)

Lumen Gentium (sobre a Igreja), 21 de novembro de 1964 (2145 eleitores, 1921 placet)

Dei Verbum (sobre a Revelação Divina), 18 de novembro de 1965 (2350 eleitores,  2344 placet)

Gaudium et Spes (sobre a Igreja no Mundo contemporâneo), 7 de dezembro de 1965 (2373 eleitores, 2309 placet)

Nove Decretos:

Inter Mirifica (sobre as ferramentas da comunicação social), 4 de dezembro de 1963 (2124 eleitores, 1960 placet)

Orientalium Ecclesiarum (sobre as Igrejas Orientais católicas), 21 de novembro de 1964 (2149 eleitores, 2110 placet)

Unitatis Redintegratio (sobre o Ecumenismo), 21 de novembro de 1964 (2148 eleitores, 2137 placet)

Christus Dominus (sobre os bispos), 28 de outubro de 1965 (2322 eleitores, 2319 placet)

Perfectae Caritatis (sobre os religiosos) 28 de outubro de 1965 (2325 eleitores, 2321 placet)

Optatam totius (sobre a formação sacerdotal) 28 de outubro de 1965 (2321 eleitores, 2318 placet)

Apostolicam Actuositatem (sobre o apostolado dos Leigos) 18 de novembro de 1965 (2342 eleitores, 2340 placet)

Ad Gentes (sobre a atividade missionária), 7 de dezembro de 1965 (2399 eleitores, 2394 placet)

Presbyterorum Ordinis (sobre o ministério e a vida dos Presbíteros), 7 de dezembro de 1965 (2394 eleitores, 2390 placet)

Três declarações:

Gravissimum Educationis (sobre a educação cristã), 28 de outubro de 1965 (2096 eleitores, 1912 placet)

Nostra Aetate (sobre a relação com as Religiões não-cristãs), 28 de outubro de 1965 (2312 eleitores, 2221 placet)

Dignitatis Humanae (sobre a liberdade religiosa), 7 de dezembro de 1965 (2386 eleitores, 2308 placet)

Em 1966, o jornalista italiano Alberto Cavallaria escreveu em um livro-entrevista: "O verdadeiro significado do Concílio Vaticano II só será reconhecido depois de muitas décadas e toda conclusão rígida torna-se imprudente" (Il Vaticano che cambia, Mondadori, p. 27).

Hoje, após 50 anos desde o início do Concílio, essa reflexão aparece verdadeira.

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*Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista "Palestra del Clero". Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

**Extraído de www.zenit.org

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