Is 35,1-6.10 Tg v5,7-10 Mt 11,2-11
Pe.
Valderi da Silva
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Caríssimos
irmãos irmãs.
A Liturgia da Igreja reúne
sucessivamente, ao longo do ano, os mais variados sentimentos: a tristeza na
Semana Santa; o gáudio transbordante, porém cheio de temperança, na
Ressurreição; a esperança durante o período do Tempo Comum; o júbilo festivo
nas grandes solenidades. Em certo momento ainda, nos deparamos com uma
manifestação […] de conforto e de felicidade em meio à penitência. Essa é a
nota característica de dois domingos únicos no ano: o 4º Domingo da Quaresma
[chamado de Laetare], e o 3º Domingo do Advento [chamado de Gaudete].
Neste último, sobre o qual refletiremos, a Igreja abre um parêntese na ascese e
na preocupação constante de uma conversão – atitudes próprias à época do
Advento e preparativas para a vinda de Nosso Senhor – para tratar da alegria,
infundindo-nos novo ânimo.
(Mons. João Clã Dias. O
inédito sobre os Evangelhos. Homilia para III Domingo do Advento. Ed.
Instituto Lumen Sapientiae, 2012, pg. 53)
A tônica deste Domingo é exatamente a alegria pela proximidade da
vinda do Cristo, e isto o percebemos na Liturgia da Palavra que ouvimos.
É diante da proximidade do encontro com o Salvador que o cristão
se alegra, pois sente em seu coração a iminente visão do seu
Senhor, algo que não é de pouco contentamento, pois se trata de acolher o Senhor
da vida, o Senhor que encaminha-nos para a vida eterna.
Já na primeira leitura desta
santa Liturgia, ouvimos o profeta Isaías falando:
Criai
ânimo, não tenhais medo! Vede, é o vosso Deus, é a vingança que vem, é a
recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar. (Is 35,4)
O que no Antigo Testamento o povo
esperava ansiosamente, o que era motivo da pregação dos santos profetas – como
Isaías – nós o vemos deitado numa manjedoura. A salvação que cura e liberta,
veio através deste que tanto os profetas anunciaram. Este momento de feliz
preparação para o Natalício de Jesus Cristo deve ser conduzido com a
compenetração necessária, mas sem prescindir da alegria e ânimo na vida cristã,
como no lembra o profeta. Nossa vida cristã precisa ser considera um permanente
“advento”, naquele sentido de espera do Senhor, visto que estamos aguardando
sua segunda vinda, aquela que se dará no fim dos tempos, onde aparecerá
glorioso junto de nós, tal como vive no Seu Reino.
Esta realização eterna que
somente o Senhor pode nos dar, que teremos com Sua vinda, nos colocará “cheios
de gozo e contentamento”, onde não se conhecerá mais a dor e o pranto (cf. Is 35,10). É por este
motivo que cantamos com o Salmista: “Vinde, Senhor, para salvar o vosso povo!” (Sl 145), e como cantamos
neste canto popular na liturgia, “Vem, Senhor! Vem nos salvar! Com teu povo,
vem caminhar”.
Hoje, temos este Evangelho onde
Nosso Senhor nos apresenta João Batista. Num esforço de penetrarmos melhor
nestes versículos, tomemos este evangelho em duas partes.
Num primeiro momento, João Batista, que já estava na prisão por conta
da fúria daqueles que não agüentavam sua pregação, envia alguns de seus
discípulos para perguntar a Jesus se ele era realmente aquele de quem o próprio
João pregava. Donde Nosso Senhor responde com algo que se tornou marcante na
credibilidade de Sua pregação: as obras,
ou seja, Jesus diz, “ide contar a João o que estais ouvindo e vendo...” (Mt 11,4). É especialmente
a Palavra de Jesus e suas obras que atestam quem Ele é, não deixando dúvidas de
que os profetas falavam Dele.
Por este motivo, podemos
direcionar nossa atenção a como deve ter ficado João, quando soube pela boca de
seus discípulos o que Jesus falava e o que Ele fazia. Com toda certeza, João
Batista sentiu a alegria inebriar seu peito, fazendo com que nem as correntes
da prisão pudessem deter seu júbilo a Deus por fazê-lo conhecer o Cordeiro
Deus, que tira os nossos pecados!
É nesta imagem que está nosso
exemplo de alegria na esperança,
característica especialmente marcante deste III domingo do tempo do advento. Pois,
considerando o júbilo em João Batista por saber do Salvador, como podemos nós,
não levarmos uma vida inteira de alegria jubilosa por sabermos quem é o
Salvador e onde o encontrarmos? Como não ficarmos alegres, mesmo tendo as
“correntes” das inúmeras turbulências em nossas vidas, mas sabendo que nosso
Salvador esta a nos sustentar?
Ainda olhando para o Evangelho
deste domingo, vemos uma segunda parte,
onde Nosso Senhor tece um maravilhoso elogio a João Batista. Ele recebeu o mais
perfeito elogio que um ser humano poderia receber de Jesus: “Em verdade vos
digo, de todos os homens que já nasceram nenhum é maior que João Batista” (Mt 11,11). Jesus Cristo
exalta a figura de João merecidamente e convenientemente, pois em João esta a
imagem daquele discípulo de Cristo que anuncia a mensagem do Senhor, que não se
acomoda no marasmo de uma vida pequena em relação a Deus, mas que
verdadeiramente sente a alegria da espera, que sente o júbilo por conhecer o
Salvador, por poder encontrá-lo e por isso alegra-se tanto a ponto de
anunciá-lo a todos quantos puder, para mostrar ao mundo a Luz que veio para nos
tirar das trevas do erro e da morte.
Esse discípulo – este cristão! –
que consegue sentir esta alegria jubilosa pela presença do Salvador, não se
deixa atravancar pelas turbulências da vida, fazendo com elas o levem a
tristeza e ao desespero. O mesmo cristão, alegra-se esperando, pois sabe da
promessa do retorno do Senhor, e por isso aguarda confiante de que Jesus
voltará, aliviando-nos do fardo deste mundo, e introduzindo-nos definitivamente
na Luz de Seu Reino.
Por fim, São Tiago na segunda
leitura desta Liturgia, nos fala para ficarmos firmes até a vinda do Senhor (cf. Tg 5,7). Isto se encaixa
perfeitamente nesta vida cristã, alegre e esperançosa, como quem esta
permanentemente a espera do Salvador. Nossas vidas cristãs precisam levar em consideração esta característica, pois somente
assim seremos capazes de conversão verdadeira, de caridade sincera e esperança
certa.
Peçamos a João Batista, que
interceda por nós, a fim de andarmos como quem espera sempre a volta do Senhor!
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