Tolstói e o sentido da vida

O texto abaixo é uma reprodução do blog Sementes do Logos, algo que considerei muito interessante, um escrito bastante sintético deste escritor monumental chamado Liev (ou Leão) Nicoláievitch Tolstói. Uma figura sem par no seu estilo que enobrece a corte literária russa. Tostói não chega a ser filósofo, e a história não o consagra como tal, mas encanta as almas mais serenas e profundas suas reflexões sobre a vida e sua misteriosa sequência pós vida temporal, ao mesmo tempo que tenta nos insitar a mudança no já desta vida que se leva.

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Nasceu em 9 de Setembro de 1828 em Iásnaia Poliana Rússia, e morreu em 20 de novembro em Astapovo. Sua mãe, Maria Nikolaievna Volkonski descendia dos antigos príncipes e seu pai, Nicolai Ilich Tolstoi era conde. Sua mãe morre ao dar a luz a uma de suas irmãs (Maria) quando Tolstoi tinha dois anos; com dez anos Tolstoi perde seu pai, o conde Nikolai. A família, ou o que resta dela muda-se para Kazan, residência de um tio do lado paterno, Vladimr Ivanovich Iushkov, onde Tolstói passa grande parte da adolescência estudando línguas orientais na universidade local, abandonando os estudos em 1847.Liev Nicolaievicth Tolstoi

  Muda-se para Moscou com a intenção de conseguir um emprego ou um casamento de conveniência. A época é grave e há cheiro de guerra no ar e, em 1851, acossado por dívidas de jogo e declarada a guerra contra a Turquia, aceita o convite de seu irmão Nikolai para servir o exército no Cáucaso. Desfrutando do tempo livre e das mordomias da vida de nobre oficial (ainda que de baixa patente), tem o tempo necessário para concluir seus primeiros trabalhos: Infância, Adolescência e Juventude. Mesmo tendo combatido e guerreado pouco nesta fase da guerra, teve algumas oportunidades de provar seu valor como militar e foi destacado para a guarnição deSebástopol (uma cidade portuária no Mar Negro).

De volta à base de sua guarnição escreveu As crônicas de Sebastopol, que lhe granjearam certo reconhecimento na época, e em que cinzelou a maioria das técnicas que utilizaria com grande sucesso em Guerra e Paz.

Em 1861 assumiu o posto de juiz de paz e aos trinta e quatro anos, em 1862, casou-se com Sofia Andreyevna Behrs – 18 anos na época – com quem teve treze filhos, sendo que cinco deles não ultrapassaram a infância.

“De volta, casei-me. As novas condições de uma vida feliz em família me afastaram completamente da procura do sentido geral da vida. A esse tempo, tudo se concentrava em minha família, minha mulher, meus filhos e, conseqüentemente, nos meios de aumentar meus recursos”.

Os primeiros quinze anos de seu casamento coincidem com seu período mais criativo, em que obras como Os Cossacos, Guerra e Paz e Anna Karenina vêm a público. Sabe-se que Sofia, além de mãe devotada, foi de grande ajuda para a obra de Tolstói, tendo copiado e ajudado a revisar sete vezes o manuscrito de Guerra e Paz. Em 1882 Tolstói publica “A Confissão” e converte-se ao cristianismo ortodoxo.

O clamor de um moribundo

Turgueniev  era escritor Russo famoso em função de seus escritos, como Tolstoi, sendo considerado por Stefan Zweig, biografo de Tolstoi, como o mais importante juntamente com o “Grande Escritor Russo”. Turgueniev viveu seus últimos instantes de vida decepcionado, tendo em vista a mudança repentina na vida de Tolstoi, pois este, deixou o mundo literário de grande fecundidade para se enveredar na busca de  resposta para suas angustiantes perguntas sobre o sentido da vida, se dedicando assim, aos escritos teológicos, sobretudo os quatro Evangelhos. Turgueniev escreveu uma carta em seu leito nas proximidades da morte:

“Que esta seja – escreveu ele – a última e sincera súplica de um moribundo. Voltai á literatura ! E o vosso verdadeiro dom. Ouve a minha prece, grande escritor da terra russa”.

  Não temos uma visão nítida pela qual podemos dizer a razão de tão repentina mudança na vida de Tolstoi: “Não foi, pois voluntariamente que se interessou pela especulação, recebeu de súbito, um choque vindo de um ponto qualquer da obscuridade…Eis que de súbito, recebe  o golpe que lhe vem da obscuridade. Percebe que lhe aconteceu alguma coisa terrível. A vida parou e tornou-se inquietante”.

Este período de crise podemos observar na sua obra, Ana Karinina, no seu sósia Levine. A respeito acrescenta  Stefan Zweig: “É essencialmente próprio do homem espiritual e, sobretudo do artista, observar as crises interiores e se esforçar por subjugá-las”. 

As questões inquietantes envolvem Tolstoi a respeito de sua vida e seu sentido, donde ele mesmo estabelece uma seqüência de questionamentos que vai, por assim dizer, determinar sua vida até encontrar a resposta:

  1. Por que vivemos?
  1. Qual é a causa da minha e de todas as outras existências?
  1. Qual o fim da minha e de todas as existências?
  1. Que significa esta distinção entre o bem e o mal que encontro em mim e por que ela existe?
  1. Como devo viver?
  1. O que é a morte e como me salvar?

Estas questões conduzirão os passos seguintes de Tolstoi nos trinta anos seguintes, se tornando mais importante do que sua criação artística. Nesta busca há alguma fazes a fim de encontrar respostas para tão angustiante problema. Perseguindo a resposta pra o sentido da vida, Tolstoi se aproxima dos pensamentos filosóficos; volta-se primeiramente para os pensadores de relevante autoridade: Schopenhauer, Platão, Kant e Pascal. Entretanto, estes filósofos não lhe deram a resposta que procurava, levando Tolstoi a ponderar:

“As opiniões não são precisas e claras a não ser quando se referem às questões diretamente concernentes a vida”.

Logo Tolstoi se afasta dos filósofos e se direciona para as religiões em busca de consolação, foi quando ele suplicou: “Dai-me, Senhor uma fé e permiti que ajude os homens a encontrá-la”.Sobre essa fase escreveu Stefan Zweig: “Embora desde os dezesseis anos de idade tivesse deixado de rezar, de freqüentar a igreja e de comungar, aproxima-se novamente do templo. Procura a estrita ortodoxia. Observa todos os seus mandamentos e prescrições. Jejua. Faz peregrinações aos claustros. Ajoelha-se diante das imagens. Discute com os bispos, os papas e os dissidentes; e, sobretudo, estuda o Evangelho”.

Ao ter contato com os evangelhos, agora de forma “profunda”, Tolstoi percebe uma nova concepção de vida e não uma doutrina mística. Para ele, os ensinamentos do evangelho estavam distantes da realidade que circundava a sua vida, portanto o evangelho deixara de ser observado, sendo assim, a sua principal tarefa interpreta-lo e prega-lo no seu sentido verdadeiro. Vendo no Cristianismo não uma doutrina mística, mas uma nova concepção de vida. “Do pesquisador nasceu um crente, do crente um profeta…do desespero pessoal brotou uma doutrina autoritária em embrião, uma reforma de todo o pensamento espiritual e moral e, ainda, uma nova sociologia”. Visto que, toda interpretação crítica dos Evangelhos perturbou as instituições eclesiásticas. “Ela sabe que todo o indivíduo que um dia se propõe a organizar sua vida, seguindo á risca a Bíblia, necessariamente, entra em conflito com as regras da igreja oficial e as disposições do Estado”.

O primeiro livro doutrinal de Tolstoi (Minha confissão) é logo interditado pela censura; o segundo (Minha fé), pelo Santo Sínodo; e as autoridades religiosas, que respeitavam o grande  escritor, embora tentassem evitar medidas extremas acabaram por bani-lo da Igreja e excomungá-lo. “Abalado até o íntimo, começou Tolstoi a minar os fundamentos da Igreja, do Estado e da ordem temporal”.

Não podemos isentar Tolstoi  da galeria dos grandes pensadores como Nietzsche e Karl Marx, “os pensamentos de Tolstoi tiveram o curioso destino de fecundar os movimentos espirituais do século XX, que são precisamente os mais incompatíveis”.

As exigências de Tolstoi para sua época tinham como princípio o amor frente ao “miserável” Estado (o Belzebu de Tolstoi) que possuía uma autoridade inaudita sobre o indivíduo. “Nenhum livro e nenhum homem contribuiu tanto para radicalizar a Rússia quanto o radicalismo intelectual de Tolstoi: nenhum encorajou tanto seus compatriotas a não recuar diante de nenhuma ousadia”. Ademais, Stefan Zweig numa das partes mais bela da biografia de Tolstoi escreveu:

“Todo homem de Estado, todo sociólogo, descobrirá, na sua crítica aprofundada da nossa época, visões proféticas, todo artista se sentirá entusiasmado  pelo exemplo deste poeta que torturou sua alma por querer pensar por todos e combater, pela força da palavra, a injustiça da terra”.

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