"O Quatrilho" e a virtude dos incrédulos

Acabo de ler um livro que a bastante tempo gostaria de tê-lo saboreado, muito mais pela fama que atingiu depois de ter se tornado filme com alguns atores "globais", pois admito que, por mais que tenha minhas críticas severas à esta emissora (Rede Globo), trabalham ali alguns atores realmente talentosos, com uma capacidade ímpar de transmitir emoção e contextualização para quem os assiste.
Mas confesso que nunca olhei o filme, pois sempre fui ortodoxo em ler primeiro o livro para depois ver o filme. Por este motivo falo da obra escrita chamada "O Quatrilho", obra esta de José Clemente Pozenato, escritor meio desconhecido para mim, mas que demonstra boa qualidade literária, ao menos na escrita.
Neste livro narra-se acontecimentos da vida de duas famílias, ou melhor de dois casais, Ângelo Gardone e sua esposa Teresa, e Mássimo e sua esposa Pierina. Famílias que se formaram na colônia, trabalhadores rurais, esforçados e de formação familiar cristã católica. O autor não faz minuciosa descrição psicológica de cada personagem, talvez na tentativa de que o leitor possa ao longo da narração formando a imagem de cada um pelas atitudes que tomam. Confesso que a respeito de Mássimo e Ângelo até foi fácil fazer isso, mas a respeito de Teresa e Pierina foi um tanto difícil, mas nisso vejo a boa capacidade do autor em conseguir expressar a complexibilidade destas personagens que vão mudando seu modo de pensar ao ponto de formar-se paradigmas para elas, exigindo das mesmas uma resposta, uma decisão para tal e tal situação.
Estes dois casais unem-se pela proximidade de Teresa e Pierina que são primas, mas principalmente porque Ângelo, tendo que sair da casa do pai porque o irmão mais novo iria se casar e habitar ali com a esposa, resolve sair de Santa Corona e aventurar-se na região de Caxias, mais especificamente, San Giusepe. Ali compra a custo uma "colônia" e resolve fazer de seu sócio neste empreendimento o esposo de Pierina, Mássimo. O resultado disso foi que os dois casais acabaram morando na mesma casa, sob o mesmo teto.
O autor já muito antes mostrava em Teresa um interesse ainda confuso (ao menos nela!) pelo marido da prima e aparentemente ele correspondia, a princípio por curiosidade. Agora morando juntos, este interesse ficaria mais claro e mais forte. Movida pela fraqueza em sua consciência moral e também desautorização da fé em que fora formada desde pequena, acaba consumando com Mássimo sua paixão, traindo assim seu marido com o marido de sua prima. Mássimo, claro, acaba assentindo a isto por descobrir um sentimento recíproco de Teresa.
Os dois fogem, como fugitivos depois do furto, e deixam Ângelo e Pierina na escuridão de suas dúvidas e da vergonha.
Estes dois, Ângelo e Pierina, resolvem depois de algum tempo de ponderação, não venderem tudo e voltar para a casa dos familiares, e ficam como estavam, tocando os negócios, sendo que os dois continuariam morando na casa como irmãos/amigos/sócios. Mas não seria assim por muito tempo, pois Pierina acabará tomando a iniciativa de demonstrar a Ângelo que as coisas entre eles podem ser mais "confortáveis"... os dois então acabam cedendo a ocasião e passam a primeira noite juntos, envolto na paixão carnal. Ou seja, movido pelo abandono dos cônjuges, seus sentimentos acabam se transformando. Mas em quê? Amor? Paixão? Como leitor questionador acredito que não, pois gerou-se neles uma necessidade meramente humana, talvez animal, de companheirismo e satisfação. Um acordo de companheirismo, sociedade e cumplicidade.
O mesmo penso de Teresa e Mássimo, pois não fora demonstrado amor neles senão mera paixão, talvez a mais animal possível, aquela força que justamente faz "rolarem cabeças".
O que realmente me incomodou nesta obra fora o louvor à virtude dos incrédulos que o autor parece fazer questão de acentuar na obra. De fato, não seria possível traçar com êxito um romance como esse se não se destruísse a moral fortificada na fé. Mas neste ponto censuro o escritor como desrespeitoso a memória de tantos colonos de origem italiana e alemã, pois nunca encontrei pessoas tão convictas e muitas vezes muito esclarecidas quando a doutrina católica. Também a caricatura que faz dos sacerdotes católicos se enquadra no exagero. É evidente que são homens pecadores, mas sinto uma tendência a desautorização a formação moral e teológica destes personagens para justificar a trama que em suma traz questões muitos fortes e sérias para teologia católica.
No entanto, é uma obra nada medíocre, mas com aquela veia literária que cativa o leitor. De leitura fácil, faz-nos ler sem desejar parar, e isto com certeza é mérito do escritor.
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