"Vôo Noturno", segunda obra de Saint-Exupéry

Como o título mesmo desta postagem já revela, "Vôo Noturno" é o segundo livro que Antoine de Saint-Exupéry escreveu, isto em 1931.

Todos conhecem este ícone da literatura francesa pelo seu mais que famoso livro "O Pequeno Príncipe", mas livros como "Vôo Noturno" e "Terra dos Homens" são capitais para embrenhar-se mais profundamente no pensamento literário deste escritor, que já deixo dito aqui, esta habitando o meu Pantheon particular dos escritores.

Mas agora restrinjo-me a falar de "Vôo Noturno", pois como disse, neste livro nos aproximamos mais da própria experiência de Exupéry mas também de sua reflexão própria sobre a vida comum, ou melhor, o excepcional na vida comum. Claro que falo da vida comum não porque o próprio escritor fala disto, mas porque esta expressão em Exupéry faz parte da minha compreensão pessoal da obra deste escritor.

Nesta obra, Exupéry faz uma curta narração - digo curta porque o livro possui poucas páginas - da vida de alguns profissionais da aviação que possuem sua sede, ou Central, na América do Sul, mais especificamente na Argentina. De lá se controla o correio aéreo que trafega para a Patagônia, Paraguai, Brasil e também para Europa. O drama destes profissionais da aviação é sempre encontrado nos livros de Exupéry, mas isso é compreensivo visto sua própria experiência como piloto e sua simpatia pessoal por esta profissão.

A história ficcional gira em torno de dois personagens: Fabien, piloto desta Central e Revière, o diretor. Apesar do trágico destino de Fabien, o personagem mais impressionante é o diretor. Talvez por estar num posto delicado, onde não existe lugar para o sentimentalismo e a opinião pública, mas apenas o interesse da profissão.
Fabien acaba tendo seu destino selado por um terrível mau tempo quando fazia o correio para a Europa. Na verdade este terrível mau tempo derrubou ele e o seu companheiro de viagem, o telegrafista. Fabien acaba sendo símbolo dos profissionais que perderam suas vidas as custas dos avanços técnicos e tecnológicos no campo da aviação civil e industrial. Sua vida é colocada oferta feita de bom grado, pois era evidente que todos os pilotos sabiam dos riscos que corriam a da possibilidade - que não era pequena - de desastres fatais. Mas sempre é importante lembrar que este piloto tinha alguém, família, que não comungava deste risco deliberadamente aceito. O escritor não esconde tal fato pois seria esconder a parcela duvidosa sobre a necessidade de tal perigo, ou melhor, de correr tal perigo.

Mas apesar da inclinação para colocar Fabien como herói do livro, ou personagem principal, penso que devemos olhar mais atentamente para Rivière, o diretor da Central. Pessoa forjada neste trabalho de grandes responsabilidades mas também de grandes controvérsias. Sua personalidade é que faz de "Vôo Noturno" uma obra figurativa, uma obra que revela a mais profunda crueza do ser humano em frente ao desafio, quando se faz necessário opções, quando se faz necessário elencar prioridades, mesmo correndo o risco de censurar o lado mais humano. De fato, se os pilotos no ar corriam o risco de mergulhar nas sombras da morte, Rivière também corria o risco de mergulhar na sombria profundeza dos seus atos, calculados com pelo "manômetros" da profissão. O que lhe regia não se limitava ao bem individual, mas ao futuro da própria aviação comercial, como deixa claro em seu empenho por não deixar morrer os vôos noturnos para trafegar os correios. Sua postura soturna e possivelmente dura com todos não lhe eliminava a humanidade, mas a escondia dentro do "sobretudo" da profissão.

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