"Agora Deus vai te pegar lá fora": sem censura, mas sem concordância

Quando alguém se dedica a fazer uma crítica ou resenha sobre algum livro, CD, DVD ou qualquer outra modalidade de escrito, não esta logo dito que será algo positivo, ou seja, uma verdadeira ladainha de elogios a obra em questão e consequentemente ao seu autor. Pois infelizmente, aqui se trata de um comentário - digamos assim - meio discordante e negativo.
Digo infelizmente porque o autor Carlos Moraes encontrou um leitor (eu, claro!) chato para "dedéu" quando tocam no assunto Igreja Católica, padres, bispos e teologia em geral. Pois, nesta minha caminhada de leitor e ouvinte já pude antever por onde vai andar certos comentários disfarçados de inocente "acho que tem que ser mais pé no chão...". Olha: Marx, Engels, Lênin, Stalin, Hitler também utilizam deste "pé no chão", tanto que sabemos o resultado, contabilizado em cadáveres. Mas claro que não desejo ser tolo em comparar o autor deste livro a estes apelidos do diabo, até porque, Carlos Moraes fora padre... na verdade continua sendo por definição sacramental.
Agora Deus vai te pegar lá fora (Rio de Janeiro. Editora Record, 2004. 287 páginas), é uma ficção, como as informações do livro mesmo trazem, mas também se baseia em fatos reais e lembranças que acredito serem do próprio autor, visto que fora padre "ordenado em 1966, que trabalhou [...] na diocese de Bagé. Durante o governo Médici, foi julgado e preso com base na Lei de Segurança Nacional".
Já li alguns comentários elogiando este livro, sua narrativa e até louvando um "ex"-padre por sua missão de mostrar uma "verdadeira" religião católica através de sua história. Estou de acordo com a boa narrativa, que traz uma estrutura cativante, daquelas que facilitam a leitura, que fazem o leitor desejar logo voltar ao livro após as necessárias pausas. Realmente Carlos Moraes consegue narrar com ilustrativa eficiência as cenas como os jogos de futebol nos campinhos amadores das vilas e bairros, e mesmo as meninices futebolísticas já na cadeia.
Esta história fala de um jovem padre que logo depois de ordenado, vivendo em tempos de regime militar, isto é, a famigerada ditadura, acaba preso por GPA (guerra psicológica adversa), nome confuso para dizer que o tal padre fora considerado uma espécie de agitador sutil, alguém que se aproveita do microfone na mão para incutir dessabores com o governo vigente. E lá vai o padre para a prisão, primeiro num quartel e depois levado para a Cadeia Civil, onde acaba virando atração turística numa cidade "sem zoológico". Lá conhece os companheiros de prisão, alguns tipos excêntricos e outros modelos simples do que faz a miséria do ser humano. Este padre-preso acaba decidindo pedir ao Vaticano sua dispensa do sacerdócio, e é aí que suas reflexões acabam menosprezando o que de mais profundo existe na teologia da Igreja, fruto de mais de dois mil anos de história, oração, vivência e estudo.
A superficialidade com que este "ex"padre apenado trata a Igreja e sua hierarquia é lamentavelmente fruto de uma mente que nunca esteve na Igreja. De modo que discordo até a utilização do "estou fora da Igreja", pois, para estar fora antes deveria estar dentro, algo que pelo exposto sobre a Igreja e a própria fé, este personagem (não sei se o próprio autor...) nunca esteve!
É triste perceber que até a própria fé, algo realmente necessário para se encontrar a verdade na Igreja, é tratada algumas vezes como "aposta" ou "loteria". Lamentavelmente uma banalização da fé, adesão pessoal e real a Verdade Revelada e transmitida pela Igreja de Cristo.
O que muitos podem dizer "espiritualidade" ou "religião pé no chão" beira a um imanentismo sem espiritualidade de fato, pois carece de verdadeira transcendência. O deus que busca este "ex"padre, e que buscam muitos por este mundo, não passa de um amuleto nos dias de temporal ou de perigo, ou ainda um imenso e seguro amortecedor de consciência.
Gostaria de terminar este comentário dizendo que gostei de ler este livro. E digo, logo de cara sabia que encontraria muita discordância nele. Mas ler somente o aquilo que me faz concordar não é produtivo, na verdade é alienante e atrofia os "músculos" cerebrais.
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