Renato Drummond
Tapioca Neto | De Rainhas Trágicas
Sim, você não leu errado. A última família de governantes da
Rússia monárquica, deposta pela revolução de 1917, pode voltar a manter
residência oficial no país. Um legislador regional do partido de Vladimir
Putin, Vladimir Petrov, tem planos de instalar uma nova lei, a ser implantada
no centenário da queda dos Romanov, “dando à família imperial um status
especial”, estimulando assim o seu retorno ao país. De acordo com informações,
o legislador tem escrito cartas aos membros da dinastia, como a Grã-duquesa
Maria Vladimirovna (atual chefe da casa dos Romanov) e ao Príncipe Dimitri
Romanovich, convidando-os a voltar para a Rússia e se tornarem símbolos da
cultura nacional, no intuito de “reviver o poder espiritual da população”. Numa
dessas missivas, Petrov abertamente afirma que “através da história do seu
reinando, a família imperial dos Romanov foi um dos pilares da soberania
russa”. Para o atual governo, essa atitude, por sua vez, poderia insuflar nas
pessoas um sentimento de identidade nacional por meio de um contato mais
estreito com seu passado.
Maria Vladmirovna, atual chefe da casa imperial russa |
Da mesma forma como fizeram outras nações europeias com suas
antigas famílias reais, a possível restauração dos Romanov estaria por trás de
uma estratégia do governo para manter o povo russo unido graças a manutenção
das antigas tradições. Segundo Petrov, numa de suas cartas, “atualmente a
Rússia está passando por um momento complicado para recuperar sua influência
mundial. Estou certo de que nesse momento histórico, os Romanov não devem
permanecer afastados de todo este processo que está tendo lugar na Rússia”. Com
efeito, o político assegura que tal medida poderia ajudar a suavizar as
controvérsias políticas que estão assolando o país desde 1917. Petrov ainda
disse que ele e seus colegas do legislativo regional de Leningrado já estão se
organizando para elaborar o referido projeto de lei que, além de tudo, garante
aos Romanov o direito de poder ocupar um dos palácios que lhes pertenciam antes
da revolução e que agora permanecem desocupados, como os que existem em São
Petersburgo ou na Crimea.
Para Vladimir Petrov, “muitos dos maravilhosos palácios do
Czar próximos a São Petersburgo estão vazios ou não estão sendo usados de
acordo com sua finalidade. Eu acho que seria um benefício para todos se um
desses palácios fossem usados como residência oficial da família Romanov”. O
atual chefe da chancelaria da casa imperial na Rússia, Alexander Zakarov,
confirmou que alguns representantes da dinastia estão preparados para retornar.
Contudo, ele acrescenta que a Grã-duquesa Maria Vladimirovna deve ter sua entrada
marcada pelo decoro e solenidades, uma vez que ela é a atual chefe dos Romanov.
Ele diz que “ela [Maria] não pede propriedades ou privilégios políticos, apenas
que a casa imperial se torne uma instituição histórica e parte da herança
nacional, semelhante às casas reais de muitos outros países. E esse
reconhecimento deve ser manifestado em um ato legal”.
Retrato do último czar da Rússia, Nicolau II, pintado por Ilya Galkin |
Atualmente, existem dois ramos da família imperial russa: um
liderado pela Grã-duquesa Maria Vladimirovna e o outro pelo Príncipe Nikolai
Romanovich. Ambos costumam visitar a Rússia e participar de vários eventos.
Porém, até hoje nenhum deles fez qualquer exigência política para o governo. De
acordo com uma pesquisa realizada em 2013, por ocasião dos aniversário de 400
anos da casa imperial, 28% dos cidadãos gostariam que os czares voltassem a
governar (6% gostaria que esse czar fosse um membro dos Romanov, enquanto 13%
gostariam que um político local fosse eleito para as funções imperiais).
Todavia, 67 % dos entrevistados afirmaram que a Rússia deveria deixar a
monarquia no passado e permanecer no regime democrático.
Com efeito, é preciso reiterar que, mesmo mantendo
residência oficial na Rússia, os Romanov agiriam apenas como um símbolo
cultural, não interferindo em assuntos governamentais. Acredito que
readmitindo-os, o governo daria um grande passo em prol da aliança entre o
presente e o futuro com o passado histórico e cultural. A nível de curiosidade,
os atuais descendentes da família imperial brasileira ainda permanecem no país
e a quantidade de saudosos da monarquia vem crescendo cada vez mais. Se a volta
dos Romanov poderia criar um elo entre os russos e seu passado, quem sabe o
mesmo também não se aplique à nossa situação, marcada por um gradual rompimento
com as tradições? Essa é uma questão a se pensar. Em todo caso, a readmissão da
família imperial russa justamente no ano em que o czar Nicolau II foi deposto
também seria uma forma de honrar o seu nome e o de sua família, executados em
17 de julho de 1918.
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