O ateísmo e o monoteísmo filosófico

Na história da humanidade, o desenvolvimento intelectual trouxe enormes avanços quanto a relação do homem com a realidade que o rodeia, e especialmente na relação com seus pares, ou seja, com os outros seres humanos. Claro que observamos algumas anomalias, como as ideologias assassinas que levaram homens a considerarem alguns de seus irmãos de natureza como seres inferiores merecendo nada menos que o extermínio.

Podemos creditar estas anomalias a uma concepção “religiosa” do ser humano, visto que a faculdade de crer parece ser inerente à natureza humana. Uma “religião” no substrato do desenvolvimento faz crescer uma crença em si mesmo aquém de qualquer possibilidade de inteligência superior. O que chamamos hoje de ateísmo revela-se nesta crença única e exclusiva da própria capacidade humana individual de responder a qualquer pergunta que inevitavelmente surge no indivíduo. É tolice pensar num ateísmo puritano, pois até mesmo esta teoria já poder ser considerado um dogma normatizado e proclamado pela própria “autoridade superior” da razão deificada.

O que me parece óbvio é a percepção racional de uma necessidade individual de interação com algo fora de si, que possa não somente confirmar o que se pensa, mas até certo ponto, conduzir-nos na vida, através das inúmeras questões que se apresentam. O indivíduo racional tenta encontrar uma resposta a esta necessidade urgente em sua própria faculdade racional, e isto de certa maneira o faz desestruturar sua integralidade, tornando assim, a própria faculdade racional um "ser" separado dele mas que não existe sem ele. Uma anomalia em termos de unidade individual, afinal, a razão não é um ente em si, não subsiste fora da integralidade do ser humano com suas outras faculdades.

É por isso que posso falar em "monoteísmo filosófico", por entender que este movimento de individualização da faculdade racional tornando-a um deus em termos de autoridade moral e sapiencial, revela a crença em um "deus único", pois a racionalidade de um não admitirá a divindade da racionalidade do outro. Algo que não raramente podemos comprovar no quotidiano de nossas vidas, seja através do que lemos na mídia, nos livros ou mesmo em nosso pequeno convívio social. Este processo é silencioso e por ser racional, danoso quanto a vontade humana, pois aqui se faz a postura ateia, daquele que nega a existência de Deus, total ou parcialmente, porque no seu lugar já deificou a faculdade racional que ele mesmo - indivíduo - separou-a de si, dando-lhe status de ente per si

Não obstante tudo isso, um ateísmo puritano revela-se impossível até mesmo no mundo das idéias. Já uma espécie de monoteísmo filosófico é bem razoável quando se entende como isolação da racionalidade para descarte de qualquer absoluto existente antes de si mesmo. Como resposta a sua ânsia por infinitude, o ser humano relaciona a existência de Deus a uma corrente amarrada aos seus pés, que pode o impedir de alçar voos eternos, algo absurdo em si, por carregar a ignorância sobre a limitação do alcance das próprias faculdades do ser humano, especialmente a razão.

Então, ateísmo filosófico é diferente de monoteísmo filosófico?


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